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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

"Deus é silêncio e o demônio é barulho" - Por Armando Lopes Rafael.

Cardeal denuncia: "O barulho se tornou uma droga da qual os nossos contemporâneos são dependentes" - e isto vale para a liturgia também.

 “Corremos o risco de reduzir o sagrado mistério a bons sentimentos”, alertou o cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Em entrevista ao jornal francês “La Nef”, por ocasião da publicação do seu livro “A força do silêncio: contra a ditadura do barulho”, ele destacou que “o silêncio não é uma ideia; é o caminho que permite aos seres humanos chegarem a Deus. O silêncio sagrado é uma lei fundamental em toda a celebração litúrgica. O Concílio Vaticano II enfatiza que o silêncio é um meio privilegiado para se promover a participação do povo de Deus na liturgia”.
No entanto, ele também observou que, “a pretexto de facilitar o acesso a Deus, alguns gostariam que tudo na liturgia fosse imediatamente inteligível, racional, horizontal e humano. Mas, desse modo, corremos o risco de reduzir o mistério sagrado a bons sentimentos”.
E faz um questionamento pungente: “Com o pretexto da pedagogia, alguns sacerdotes permitem inúmeros comentários que são insípidos e mundanos. Esses pastores temem que o silêncio em presença do Altíssimo desconcerte os fiéis? Acreditam que o Espírito Santo é incapaz de abrir os corações aos divinos mistérios, derramando sobre eles a luz da graça espiritual?”.
“Deus é silêncio e o demônio é barulho. Desde o princípio, Satanás procurou esconder as suas mentiras sob uma agitação falaciosa, ressonante”, afirmou o cardeal africano, prosseguindo: “O barulho se tornou como uma droga da qual os nossos contemporâneos são dependentes. Com sua festiva aparência, o barulho é um redemoinho que impede cada pessoa de encarar a si mesma e enfrentar o vazio interior. É uma mentira diabólica”.
Recuperar o sentido do silêncio, para o cardeal Robert Sarah, é uma “necessidade urgente. A verdadeira revolução vem do silêncio. Ela nos dirige a Deus e aos outros e, com ela, podemos colocar-nos humildemente a seu serviço (…) O silêncio é o pano com que as nossas liturgias devem ser tecidas. Nada nelas deveria interromper a atmosfera silenciosa, que é o seu clima natural”.
O silêncio “expõe o problema da essência da liturgia. Quando nos aproximamos da liturgia com o coração ruidoso, ela tem aparência humana, superficial. O silêncio litúrgico é uma disposição radical e essencial; é uma conversão do coração (…) Como podemos entrar nesta disposição interior a não ser dirigindo o nosso olhar, todos juntos, sacerdote e fiéis, para o Senhor que vem, para o oriente simbolizado pela abside, onde o trono é a Cruz? (…) Se não for fisicamente possível celebrar ad orientem, é absolutamente necessário pôr uma cruz no altar à plena vista, como um ponto de referência para todos. Cristo na cruz é o oriente cristão”.
Falando da sua recente afirmação sobre a “reforma da reforma”, o cardeal Sarah explicou que “a liturgia sempre deve ser reformada a fim de ser mais fiel à sua essência mística. O que é chamado de ‘reforma da reforma’, e que nós talvez devamos chamar de ‘mútuo enriquecimento dos ritos’, para adotar uma expressão do magistério de Bento XVI, é uma necessidade espiritual”.
O cardeal também lançou um apelo a não “desperdiçarmos o tempo contrastando uma liturgia com a outra, o rito de São Pio V com o do beato Paulo VI”, porque isso “é prejudicar a nossa relação com Deus e a expressão da nossa fé cristã. O diabo quer que estejamos uns contra os outros. É tempo de acabar com esta desconfiança, desprezo e suspeita. É tempo de redescobrir um coração católico. É tempo de redescobrir juntos a beleza da liturgia”.
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Com informações de ACI Digital

2 comentários:

  1. Uma definição sabia. A humildade triunfa. O olhar perscrutador de Deus não deixa nada desapercebido. O alvoroço, a zoada apenas iludem. Não evangelizam.

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  2. Bastião Félix, um leigo católico da Rajalegue deixou de ir a missa e fez a presente justificativa : Antigamente a missa era rezada em latim, o padre celebrava de costas para os fieis, ninguém entendia o que o celebrante dizia. Mas, o silêncio e a paz reinavam e simbolizavam a doutrina cristã. Hoje, é um com um violão, outro com um zabumba, um terceiro com o pandeiro e outro com um microfone na mão parece mais um samba. O que rende hoje é ser padre artista, cantor, é isso que rende dinheiro.

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