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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 5 de março de 2017

FHC e as "verdades alternativas"

(Editorial do "Diário de Pernambuco" deste domingo, 05-03-2017)
Pela história que construíram ao longo da carreira, algumas pessoas quando falam nós devemos escutá-las. Não necessariamente para, a piori, concordar ou discordar. Mas para analisar. Uma dessas pessoas é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele divulgou nota oficial, sexta-feira, em defesa do senador Aécio Neves (PSDB/MG), sobre supostas doações que o político mineiro teria pedido a Marcelo Odebrecht, ex-presidente do Grupo Odebrechet.

Dois argumentos merecem atenção.

O primeiro é quando FHC diz: “No importante debate travado pelo país distinções precisam ser feitas. Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção. Divulgações apressadas e equivocadas agridem a verdade, e confundem os dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais”.

O segundo: “A palavra de um delator não é prova em si, apenas um indício que requer comprovação. É preciso que a Justiça continue a fazer seu trabalho, que o país possa crer na eficácia da lei e que continue funcionando. A desmoralização de pessoas a partir de 'verdades alternativas' é injusta e não serve ao país. Confunde tudo e todos.”

A distinção cobrada sobre o caixa dois e a definição de que a palavra do delator não é prova em si são argumentos que - não estivéssemos nós sob um exacerbado clima de radicalismo político-ideológico -  não precisariam sequer ser mencionados, de tão óbvios que são.  A bem da verdade, repare-se que o ex-presidente é enfático nesses dois argumentos agora, ao sair em defesa de um dos líderes tucanos. Não o fez antes, quando os alvos eram outros.

No clima de radicalismo em que estamos, qualquer reparo à Lava-Jato é considerado como um movimento contrário à punição de eventuais culpados. Não se trata disso.  Neste caso mencionado por FHC e em diversos outros, o que se deseja é, simplesmente, que se faça justiça.  Como bem diz FHC, em sua nota (atentem para o ‘criteriosamente’): “É hora de continuar a dar apoio ao esforço moralizador das instituições de Estado e deixar que elas, criteriosamente, façam justiça”.

2 comentários:

  1. Pode-se discordar de FHC...Pode-se até odiar FHC...
    Mas, inegavelmente, ele é uma das vozes mais sensatas da política nacional. O sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso exerce hoje o papel que o caracterizou desde a saída do poder: o de analista profundo, respeitdo e desapaixonado da situação em que jogaram o Brasil depois que ele deixou a presidência da República.

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  2. A Lava Jato nada mais é do que a resposta da Justiça a um esquema de desvio de recursos públicos sem precedentes, montado de forma deliberada e reiterada pelos governos do PT para sustentar um projeto de poder que era para durar ao menos 20 anos.

    Não é a Lava Jato que quer impedir a candidatura do petista. É a candidatura que visa interditar, no grito, as investigações contra ele.

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