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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 23 de novembro de 2024

069 - O Crato de Antigamente - Por Antônio Morais.


Paidéguas e paiséguas.
Meu pai, Jorge Lucas de Sousa, foi um cidadão probo, honrado e trabalhador. Com o suor diário de seu rosto de modesto marceneiro, educou todos os sete filhos, formando a maioria deles.

Foi bondoso e compreensivo, sem deixar de ser rígido na observação de suas ordens, que eram cumpridas a risca, por todos nós. O horário de chegada à casa, a noite, era nove horas. Invariavelmente. Pois bem, certo dia resolvi ultrapassar os limites estabelecidos. Cheguei às dez. Com muita cautela, de mansinho, pude chegar a minha rede, de onde ouvi, minutos depois, a voz do meu pai: Sinhá, nome de minha santa mãe e suprema educadora, Osvaldo já chegou? Já, respondeu com a doçura de mãe e a grandeza de protetora.

A experiência do meu pai, entretanto, falou mais alto. O toque da bengala no chão rompia o silencia da noite e fez-me tremer de medo dentro da rede. Ao aproximar-se, curvou-se de modo a alcançar com as mãos os meus sapatos, e sentenciou: " Chegou agora. Os sapatos estão quentes.

Os apelos de Dona Sinhá, coração de mãe e amor de santa, evitou que naquela noite eu fosse dormir com o couro quente, como os meus calçados.

Nove horas, hoje, é o momento de o jovem sair de casa, para voltar só Deus sabe o dia. Foi época dos paidéguas. Tempo, agora, dos pais éguas, que somos nós, da geração moderna.

Osvaldo Alves de Sousa.

7 comentários:

  1. Grande Osvaldo Alves de Sousa. Os escritos de suas lembranças e andanças.

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  2. Ó tempos, Ó costumes... diz o adágio latino.
    Hoje os filhos - em sua grande maioria - destoam do comportamento dos pais.
    Esta crônica serve de reflexão... e da constatação de que os pais hoje já não influenciam a nova geração, via de regra, formada por filhos insubordinados.

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  3. Muita sorte, mesmo!
    Antigamente não tinha desculpa, dormia com o couro quente, principalmente se fosse de família numerosa! Era o exemplo que tinha que dar para os outros, era a lei de Chico de Brito! 😬

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  4. A revista que o Osvaldo Alves de Souza editava, à época que estudei na Escola Agrícola, serviu de apelido para um de seus filhos que era nosso colega lá: "Região".

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  5. Tive o privilégio de conhecer a mãe do mesmo,sempre me supriendia pela manhã com um cafezinho fresquinho e duas fatias de pão...era uma senhora impoluta!...

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  6. Os pais de hoje sofrem muito por causade seus filhos, a maioria são desobedientes, sem falar dos vicios desse mundo atual, que apesar das informações serem bem difundidas pelos meios que dispomos, os jovens ainda se enveredam por caminhos tortos, onde Deus fica em segundo plano, e pir aí vai

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  7. E nós ainda é que temos que procurar a intender .só querem ter liberdade total ...responsabilidade. nem uma .quando queremos Protegendo-os. Somos chatos .quando quebram a cara. Somo poto de apoio .mais ninguém nos apoia ..não é fassil ser pai hoje em dias com tantas modernidades ..bom dia brazil amado.

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