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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 11 de novembro de 2017

A Crônica do Domingo: "Heróis esquecidos" - por Rui Pinheiro da Silva (*)

  Nesta crônica, vou lembrar dois humildes soldados brasileiros que se tornaram heróis: um é o cearense João Sorongo e o outro é o gaúcho Fredolino Chimango. Ambos lutaram em guerras e épocas diferentes, porém, por seus méritos de bravura, tornaram-se merecedores da gratidão e reconhecimento do povo brasileiro. O cearense foi um soldado de grande valor. No início da Guerra do Paraguai (1865-1870), ele era um humilde boêmio de Fortaleza. Apresentou-se ao batalhão de Voluntários da Pátria que, na hora da partida, recebeu das moças da sociedade a Bandeira Nacional por elas confeccionada com fio de ouro. Sorongo, emocionado, chorou de orgulho e prometeu defendê-la com o sacrifício da própria vida.

   A tropa embarcou para o Rio de Janeiro, onde deveria receber treinamento de combate. Não foi o que ocorreu. O governo imperial fez deslocar aquele batalhão para o Teatro de Operação, sem o mínimo preparo militar. Conclusão: a tropa caiu numa emboscada e foi dizimada. Consta que, após a batalha de Avaí, grande feito de Caxias, a tropa do major Carolino Sucupira, participante daquela luta, deparou-se com um monte de cadáveres, identificando um de bruços, com os braços decepados, e com fiapos da Bandeira Nacional entre os próprios dentes. Ali estava o bravo cabo-corneteiro João Sorongo , que nem a morte fê-lo entregar a bandeira brasileira.
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   O outro herói, o gaúcho Fredolino Chimango, participou da Força Expedicionária Brasileira que lutou na Itália (1944-45). Como soldado do 11º R I, libertou Montese, a pequena e heróica cidade nos altos dos Apeninos. Esta cidade permanecera 4 anos em poder dos alemães e, em 14 de abril de 1945, quando foi libertada pela tropa brasileira, deu-se a sua derrocada. O inimigo evacuou seus mortos; menos um, o soldado Fredolino, um guerreiro audaz, por muito tempo considerado extraviado/desertor. Em 1967, após comunicação do prefeito daquela cidade, o corpo dele foi exumado e no seu tórax estava cravada uma ogiva de morteiro alemão. "Se servistes à Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma". (Padre Antônio Vieira).

(*) RUI PINHEIRO SILVA é Coronel reformado do Exército.
Artigo publicado na edição de 11-11-2017 do "Diário do Nordeste".

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