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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Lembranças de um Crato que não volta mais - Por: Dihelson Mendonça

Era um tempo muito bom, muito diferente de hoje. A vida era mais tranquila, os costumes eram outros. Havia mais respeito e educação entre as pessoas, que se cumprimentavam. Não existia violência nas ruas, nunca se ouvia falar em assaltos...a gente poderia andar tranquilamente para qualquer lugar da cidade, se divertir, ir à festas...voltar de madrugada, e ninguém sabia o que era assalto.

Claro que não tínhamos as comodidades de hoje, como a internet, celulares, mas a gente não sentia falta. Existia TV, Rádio, Telefones, que faziam chamadas DDD e DDI ( Isso já nos anos 70, que a gente chamava de interurbano. Antes, era com auxílio da telefonista. A cidade era silenciosa de tal forma, que se alguém ligasse um rádio, daria para ouvir em todo o quarteirão. Éramos revestidos de natureza, íamos tomar banho nos pés de serra, na cascata, no Serrano, na AABEC, nas grotas, nas fontes que brotavam da Chapada do Araripe...oh tempo bom !

E não sei se vocês alcançaram...ali onde fica hoje a Caixa Econômica Federal, na esquina da Rua Santos Dumont com a Mons. Esmeraldo, havia uma ( Pasmem ), Fábrica de biscoitos ( A GESSY ), e o cheiro dos biscoitos perfumava as ruas do centro do Crato de forma indescritível. A fábrica tinha as laterais vazadas, e quem passava, via imensas esteiras rolantes e barulhentas, máquinas enormes, e milhares de biscoitos deliciosos nessas esteiras. Toda criança queria entrar lá, mas haviam grades. Ali na rua Almirante Alexandrino, que vai dar lá no hotel Tabajara, não havia ainda essa rua da HONDA para o canal, era tudo um imenso prédio onde funcionava uma fábrica de óleos vegetais ( A SINBRA, se não me engano ): Fabricavam o Óleo Crato, que era bastante considerado, e mais dois outros, cujos enormes desenhos das latas, estavam estampados na parede externa da fábrica, próximo à residência dos Arraes. A fábrica era enorme e tinha uma chaminé altíssima que dava para ver nos céus do Crato.

Tenho tantas recordações daquele tempo, em que ainda não existia a estação rodoviária, os ônibus paravam na Rua Nelson Alencar, principalmente os da Viação Rio Negro, que faziam a linha Crato-Fortaleza, que por sua vez, concorriam com a viação Rápido Juazeiro, do mesmo proprietário: Raimundo Ferreira. Os ônibus que iam para São Paulo, da Expresso Real Caririense ( ERC ) e Viação Varzealegrense paravam ali próximo ao restaurante Guanabara ( O Neném ). Eu fui uma vez para São Paulo no ERC, levou 3 dias para chegar, ( rs ), mas a viagem foi cheia de beleza.

As ruas eram cheias de gente, as feiras, enormes, vendia-se de tudo. Ela se espalhava por boa parte do centro. Dia de feira, ( segunda ), era o dia de vir ao Crato, porque aqui era o centro dos negócios, o centro de tudo, de comércio, de indústrias, de hospitais bons, maternidade...o cariri nasceu aqui. Tinha matuto que vinha só para admirar o prédio do Banco do Brasil...rsrs . Nos domingos, casais flertavam nas praças da cidade, principalmente na Siqueira Campos, e na Praça da Sé. Havia mais comunicação, as famílias eram mais próximas, iam à igreja e depois, as praças ficavam abarrotadas de gente.

A vida doce do Cratinho de açúcar se perdeu em alguma veia da história, uma vida que quem viveu, há de lembrar para sempre. Um tempo bom, um tempo feliz, que não volta mais."

 Dihelson Mendonça

Um comentário:

  1. As mudanças são assustadoras. E o que se admira mais é a passividade das pessoas na aceitação de mudanças que em nada acrescentam ao bem estar da sociedade.

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