Historiadores desonestos apresentam Dom João VI como um glutão, despreparado, omisso e preguiçoso. Historiadores honestos dizem exatamente o contrário!
O historiador Armando Alexandre dos Santos assim se expressou:
"Na realidade, D. João, Príncipe-Regente e depois Rei, soube transformar em apenas 13 anos um Brasil que encontrou provinciano e acanhado em 1808, num Reino-Unido a Portugal, estuante de vitalidade e de virtualidades que até hoje, decorridos perto de dois séculos, ainda não foram suficientemente exploradas e ainda estão muito longe de se esgotar. Mais do que isso, soube prever a separação do Brasil de sua antiga Metrópole - intencionalmente não falamos de independência, uma vez que o Brasil desde 1815, quando foi elevado à condição de Reino Unido a Portugal e aos Algarves, já não era dependente de Portugal à maneira de uma província".
Já o historiador Oliveira Lima, no livro O Império Brasileiro (Itatiaia, S. Paulo, 1989, p. 182) escreveu:
"Foi moda, durante muito tempo, difamar D. Pedro I e zombar o mais possível do bom Rei D. João VI, a quem o Brasil deve sua organização autônoma, suas melhores fundações de cultura e até seus devaneios de grandeza". É verdade. Basta ver o que ele fez quando aqui chegou, com a família real, em 1808. Foi Dom João VI quem abriu os portos do Brasil às outras nações, criou o Banco do Brasil, a Biblioteca Pública, o Jardim Botânico, e tantas outras repartições que consolidaram o Brasil como nação, como o ensino médico, o curso de agricultura, a Imprensa Oficial, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios e o Curso de Cirurgia etc.
"O estabelecimento de instituições monárquicas no Brasil, a partir de 1808, contribuiu estamos hoje certos e, aliás, alicerçados numa larga tradição histórica, para uma mutação pacífica do estado de colônia à situação de Estado Independente. A dinastia de Bragança ao transferir-se para o Rio de Janeiro, ao transportar para a colônia todo o aparelho institucional do reino abandonado às intenções napoleónicas, deu um passo gigantesco, não só garantindo a sua própria sobrevivência activa, institucional e política, como acentuando essa unidade administrativa e territorial no Brasil".
" A unidade territorial e política da antiga colônia portuguesa da América do Sul é normalmente aceite como uma conseqüência do estabelecimento, por parte dos portugueses, de um governo colonial centralizado que viria a permitir uma herança de unidade. A administração espanhola, bem pelo contrário, teria criado as condições para uma repartição de estados no seu império colonial americano".
Sobre a personalidade de Dom João VI, assim escreveu o escritor inglês Marcus Chekek, no livro "Carlota Joaquina" (José Olympio, 1949, pp. 210):
"Era acessível ao mais humilde dos seus súditos. Foi sempre um fervoroso católico e um protetor da música. Era caridoso, profundamente leal para com os seus amigos, leal para com os aliados do seu país, sentimental, fácil de levar e muito apegado a fisionomia e cenas familiares. A afeição e o respeito que gozou entre o seu povo foram postos à prova em inúmeras ocasiões. Os defeitos do seu caráter eram em geral os excessos das suas boas qualidades. Um homem menos bondoso ter-se-ia livrado de suas dificuldades com um divórcio, ou imposto disciplina a seus filhos pela severidade".
No Brasil, felizmente, renomados historiadores fizeram justiça a Dom João VI, a exemplo de Oliveira Lima ("Dom João VI no Brasil", 2ª ed., Rio, 1945, 2 vols); Pandiá Calógeras ("Formação Histórica do Brasil", 4ª ed., S.Paulo, 1945, pp 69-72) e Hélio Viana ("História do Brasil", 3ª ed.,S.Paulo, 1965, vol. II, pp 7-34).
O tempo (Senhor da Razão, segundo a Bíblia Sagrada) trabalha a favor da revisão de muitos conceitos que foram amplamente aceitos com "foros de verdade" até 1989 (ano da queda do Muro de Berlim). É o caso do que representou para o Brasil a instituição monárquica que vigorou aqui de 1500 a 1889 (389 anos, contra 111 anos da atual forma republicana).
O reconhecimento virá. É só aguardar.
Quem viver, verá...
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