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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 27 de abril de 2018

Como entender os adágios populares de antigamente


Até a década 60 do século passado, nossa região do Cariri – distante cerca de 600 km do litoral nordestino – era carente de comunicação com os centros mais adiantados do Brasil. Foi por isso que preservamos uma cultura própria, herança portuguesa, onde se destacava os chamados “   ditados populares”.
   Lembro-me de alguns ditos populares que a população sempre repetia. Por exemplo: “Hoje é domingo, pé de cachimbo”. E ficávamos a imaginar o que seria um “pé de cachimbo”. Sabemos agora que o correto seria dizer: “Hoje é domingo pede cachimbo”. Ou seja, naquele tempo quando o tabaco era muito difundido entre nós, domingo era um dia especial para relaxar e fumar um cachimbo, ou mesmo para os mais aquinhoados em dinheiro, fumar um tradicional cigarro. 
    Eis outras dicas do Prof. Pasquale para entendermos os adágios de antigamente: Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão”. O correto seria dizer: “Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão”.
    Outro dito muito repetido outrora: “Cor de burro quando foge”. O correto seria dizer: “Corro de burro quando foge”
    Mais um: “Quem tem boca vai a Roma”. Ora, o correto seria dizer: “Quem tem boca vaia Roma”. Ou seja, vaia do verbo vaiar, no sentido de que "quem tem boca diz qualquer coisa, mesmo insana". Outro adágio de antanho dizia: “Fulano é cuspido e escarrado a sicrano”, a significar uma pessoa parecida com outra. O correto? Era dizer “Esculpido em Carrara”. Carrara é um tipo de mármore que vinha daquela cidade italiana. Era comum as famílias ricas mandarem fazer os túmulos dos seus mortos com mármore de Carrara. Esses jazigos, muitas vezes, eram ornados até com bustos de mármore dos falecidos, bustos esses semelhantes aos homenageados. 
     E para finalizar: “Quem não tem cão, caça com gato”. O correto seria: “Quem não tem cão, caça como gato”. Ou seja, caça sozinho. 
      A partir da década 70, o Cariri começou a receber o sinal da televisão, vindo do Rio de Janeiro e São Paulo. Aí nossa população começou a imitar a cultura do Sudeste brasileiro.
       Deu no que deu.
Postado por Armando Lopes Rafael

Um comentário:

  1. Uma postagem primorosa e de aprazível leitura. Infelizmente essa cultura foi esquecida pelo desinteresse da população da região que não a conhece e nem tem interesse em conhecer. "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura", foi assim que se foi os tempos altaneiros e independentes do cariri.

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