Ministro da Justiça e Segurança Pública, habituado a enfrentar o crime organizado do colarinho-branco, tem pela frente grupos armados que tomaram as ruas de Fortaleza.
Caro leitor,
Por esses dias em que a coisa está pegando fogo no Ceará me perguntam: e agora, como é que o Moro vai se sair dessa? Como você tem acompanhado no Estadão, Moro está habituado a enfrentar o crime organizado do colarinho-branco e seu modelo da Lava Jato já se espalhou pelo País. Agora, porém, ele tem pela frente o pessoal barra pesada, os grupos armados de fuzis que roubam e matam sem clemência, gente que tomou as ruas de Fortaleza e de cidadezinhas do interior do estado - zangados com medidas da Secretaria de Segurança Pública do Estado que cortou regalias no cárcere.
Perguntam-me se a estratégia do juiz da Lava Jato, que pôs de joelhos políticos insolentes, altos executivos da Petrobrás, doleiros e empreiteiros - enfim, uma 'freguesia' que morre de medo da prisão temporária, mesmo de uma condução coercitiva -, será a mesma contra o 'bandido comum', por assim dizer.
O que eu sei é que este é o primeiro grande desafio de Moro no Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Relembre que mal o ano começou e os bandos ferozes atacam o Ceará - até aqui (07JAN2019), contabilizadas 150 ações violentas que se alastraram por 35 municípios.
Acho que Moro fez o que lhe é possível fazer a essa altura, ainda esquentando a cadeira. Sua primeira providência foi autorizar o deslocamento da Força Nacional até a área conflagrada. Um bom reforço para a polícia local que já prendeu bastante,148 ao todo, mas ainda não o suficiente. Quando decidiu enviar a Força Nacional para o Ceará, Moro me disse. "O crime organizado não tem como vencer o poder público organizado."
Imediatamente, a medida pode dar algum resultado e conter a onda de violências. Mas o recado está dado. Eles não são do colarinho branco. Eles não temem nada. Eles jogam pesado. Eles não têm medo da cadeia. Nem da morte. Eles não sabem o que é uma delação premiada.
Há quem acredite que nem a mão pesada do ministro os fará recuar.
Moro também já mandou seu aviso. É importante, caro leitor, recordar o discurso do ex-juiz ao tomar posse. Falou duro. 'Precisamos recuperar o controle do estado sobre as prisões brasileiras.'
Brevemente, detalhou como pretende barrar a ofensiva das facções do crime organizado que dominam o sistema penitenciário - isolamento carcerário das lideranças, identificação da estrutura e confisco de seus bens.
É um desafio e tanto! O 'exílio' dos cabeças das seitas que se criaram nas prisões já foi adotado em São Paulo, por exemplo. Deu certo?
Conforme noticiou o Estadão, Moro sonha com uma legislação nos moldes do sistema americano, o 'plea bargain', que permite a um suspeito firmar pacto com a Promotoria antes mesmo da abertura da ação penal.
A meta do ministro é aplicar o acordo penal nos crimes de furto, assassinato e roubo praticado por um único investigado, sem ligação com organizações criminosas. Pode ser uma saída para que os presídios não entrem em colapso de vez.
O problema é grande, mas a coragem do Ministro é maior.
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