É recorrente, por parte de dirigentes, treinadores, jogadores e muitos cronistas a prosaica explicação para derrotas de uma equipe de futebol. Pela pueril razão de que “a bola não entra”.
Sistema de jogo que não encaixa, desgaste físico, calendário massacrante, incompetência dos gestores, arbitragens ruins e outras argumentações perdem de longe para uma causa contida numa única e escassa frase: “A bola não entra”.
Óbvio. A redonda só penetra para a consecução do gol se ultrapassar, por completo, a linha de meta, desde que algum pé competente a impulsione corretamente.
Menos mal, porque essa frase, geralmente, ganha a inclusão da palavra não, e fica assim: a bola não quer entrar.
Interessante, num primeiro momento, a gente imagina a bola com vontade própria, contrariando o intuito de quem a toque para o alvo.
Quer dizer: a culpa pela mediocridade do futebol brasileiro é a bola, pelo fato de não desejar, não querer entrar no gol.
Depois disso, tome investigação para se descobrir, por eliminação, qual a razão da insubordinação da “gorduchinha”, que sente calafrios ao se aproximar do gol.
Claro, tudo isso é uma grossa falsificação para encobrir erros que começam na gestão distópica, que vitimiza os clubes e deságua dentro de campo.
Os Napoleões de hospício infestam o futebol no Brasil e, por isso mesmo, não reúnem condiçôes de sequer disfarçar o remorso pelo que fazem, à frente de clubes de tradição.
E, por isso mesmo se amparam, oralmente, no discurso da bola que não quer entrar. Ridículo, demasiadamente ridículo.
Para o texto não terminar no desconforto do desalento, uma canja do poeta Carpinejar sobre a bola:
“É uma árvore do ar
O vento sugerindo curvas de pano
Um pássaro durante o chute
Um peixe dentro do gol.”
Como tudo na vida, o futebol precisa de lirismo
Ridículo a definição exata.
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