Neste
dia 17, a cearense Rachel de Queiroz, primeira imortal da Academia
Brasileira de Letras, faria 109 anos. Inicia-se, portanto, o caminho
preparatório dos 110 anos de nascimento dessa notável escritora que tão
bem retratou o Nordeste em sua arte literária.
Muito já escrevi e falei sobre Rachel, mas, nada pode servir para mensurar a importância dela para a literatura, para o Brasil.
A
quem conheceu Rachel e com ela conviveu é fácil dessa importância e que
ela não se reconhecia desse modo. Ela sempre pertenceu à vanguarda. No
Ceará, ainda quase menina-moça, frequentava os Cafés onde os literatos
se reuniam na Praça do Ferreira para trocar ideias. Ela diz em seu
“Tantos Anos”, escrito em parceria com sua irmã Maria Luiza de Queiroz
Salek que era respeitada nesses locais e tida como colega daqueles
mestres, incluindo-se aquele que ela considerava seu padrinho literário,
Antônio Sales.
Rachel
de Queiroz, nasceu no centro da capital cearense, Fortaleza, em
17/11/1910. Na viagem para Quixadá, onde foi criada, passou por
Pacatuba; ali seus avós tinham propriedades e na igreja de Pacatuba foi
batizada. Compôs a primeira turma de normalistas do Colégio da Imaculada
Conceição, de Fortaleza, em 1925. Do Colégio guardou grandes memórias.
Embora se confessando agnóstica, ela nunca desrespeitou qualquer tipo de
religião, sendo de sua autoria um dos mais belos artigos que conheço
sobre São Vicente de Paulo, fundador da Congregação das Irmãs
responsáveis pelo Colégio ou a “Santa Gaiola”, como ela chama em texto,
as Filhas da Caridade de São Vicente.
Toda
a Literatura de Rachel é voltada para o Nordeste. Publicou seu primeiro
romance aos 19 anos, em 1930. N’O Quinze, conta uma história de amor
tendo por pano de fundo os dramas da seca. Rachel tinha menos de 5 anos
quando ocorreu a seca de 1915. Este trabalho firmou a Literatura
Regional na Literatura Brasileira. Um só de seus romances é ambientado
fora do Ceará, mas, ainda assim, com características nossas. Seus
grandes clássicos, “O Quinze”, “Dôra Doralina” e “Memorial de Maria
Moura”, reproduzem retrato de épocas distintas no Nordeste,
especialmente no Ceará.
Sua
alma mater, expressão empregada pelos poetas latinos para designar
pátria, foi o Ceará. O leitor que não conhecer sua biografia terá a
impressão de que ela nunca saiu do Ceará, pois, estando em qualquer
lugar, o Nordeste e o Ceará a acompanharam. Em seu último livro, “Falso
Mar, Falso Mundo”, ela, estando em Berlim Ocidental, descobre “– quem
diria? –” indaga ou indica ela, “a caatinga nordestina em réplica, como
gêmeos univitelinos”. A crônica é datada de 25/12/1993. Rachel diz: “...
tive até um choque. Me vi de repente no Ceará, tal como deve ele estar
agora, a caatinga em plena seca”.
Rachel
de Queiroz faleceu em 2003, 13 dias antes dos 93 anos. Partiu dormindo,
em rede levada do Ceará, no seu apartamento do Leblon, Rio de Janeiro,
edifício Rachel de Queiroz. Essa rede forrou o caixão que levou seu
corpo vestido com o fardão de imortal da Academia Brasileira à última
morada.
Para quebrar o tom narrativo
desta coluna, nesta data querida, envio a Rachel que está “… naquela
quintessência de excelências que só o céu pode dar”, meu abraço de
parabéns e agradecimento por sua existência!
(*) José Luís Lira é
advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do
Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito
Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina)
e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É
Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte
livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais
brasileiras.
Notável cearense, notável brasileira.
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