Nesta
coluna, comentarei o livro de Neil Silveira, “Canto de Menestrel”,
lançado semana passada na Academia Sobralense de Estudos e Letras. O
autor exerce belas profissões, a advocacia e o jornalismo, não bastassem
essas é professor, participa de entidades de classe e é imortal da
Academia Cearense de Letras Virtual: ACLV, inovação dos tempos atuais.
Sempre suspeitei de suas aptidões para a literatura. Até pensei que ele
se candidataria à cadeira de seu pai, meu saudoso colega na Academia
Sobralense, Edinardo Silveira, mas, para tudo há um tempo.
Na
epígrafe do livro encontramos trecho de uma das mais belas canções da
música popular brasileira, “Tocando em frente”, “Cada um de nós compõe a
sua história/ Cada ser em si/ Carrega o dom de ser capaz/ E ser feliz”.
É mais ou menos uma síntese do que encontraremos no livro, composto com
versos rimados e versos livres, demonstrando a versatilidade do autor
na arte poética.
Li
com atenção as páginas do “Canto de Menestrel” e comecei a observar
seus versos pelo último poema: “O tempo ensina/ que nenhuma dor é em
vão/ que todo tropeço é aprendizado”. E me recordei do Vate Fernando
Pessoa que nos ensinou que o Poeta é, usando de licença poética, um
“finge-dor”, que “Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/
A dor que deveras sente”.
Canta
Neil: “Das letras, fiz canção./ Do silêncio, reflexão./ Desmitifiquei o
mito.// Letras também fazem mentir/ O que o coração não revelar”. E
existe local mais adequado para se guardar segredos que no coração? Não
imagino.
Mas,
não é só dor, mesmo que com ensinamento, não é só letras que se tornam
canções. A vida também é primavera e o Cantor/Autor comemora: “As cores
voltaram a enfeitar/ E a brisa de novo acalenta a face”. E a natureza
convivendo consigo mesma é lembrada: “O vento tenta enxugar a água da
chuva/ Mas a tempestade deixou rastro tão sinuoso/ Incapaz de ser
ofuscado pelo mais belo arco-íris/ Somente um dia arrebatado pelo senhor
do tempo”. Em “Outro jardim” seria a raposa absolvendo a rosa por ter
enganado o Pequeno Príncipe ou a desculpá-la pelo espinho que
naturalmente surge em seu caule? Seria uma metáfora?
E
um silêncio tão grande se instaura que quase nos faz chorar. Chorar não
em homenagem ao silêncio, mas, à dor gerada pelo silêncio: “Lembrar de
outrora/ Me segurando a mão/ Protege mundo afora”. Penso referir-se à
proteção paternal que nos acompanha a vida toda em diversas formas, mas,
sempre cuidando de nós.
Quem
não sente “saudades” de um jogo de cartas despretensioso, sem apostas
ou cobranças? O Poeta responde: “Cada carta, com diferentes valores e
naipes,/ uma história, um curinga!/ Um dia fizeram glória de uma morada
feliz./ Valetes, damas e reis, sem casa, jazem superpostos/ Sem castelo,
sem castelo./ Qual a brisa que passou, passou – o castelo”. E natureza
não foge à sua poesia: “Amo o canto do sabiá,/ O cheiro da terra,/ O
afago da brisa leve”. Por poesia ser vida e quase tudo que n’ela há, o
autor canta: “Estimo as melodias das canções,/ O retrato de Van Gogh/ E
os versos de Camões”... “O alvorecer inspira o querer/ Para nunca
desistir./ É assim que se vive/ Sem deixar passar a vã sutileza”.
“Preciso do meu riso”, exclama, e eu completo com Sater, “É preciso paz
pra poder sorrir!”
(*) José Luís Lira é
advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do
Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito
Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina)
e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É
Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte
livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais
brasileiras.
O meu pai foi um lavrador, um plantador de arroz em Várzea-Alegre. Sua principal preocupação era com as chuvas. Muitas vezes ouvir animado com o canto do xexéu, pois o tinha como o anunciador da chuva.
ResponderExcluirJosé Augusto de Lima Siebra, poeta varzealegrense radicado em Crato tinha uma predileção pelo pássaro xexéu.
Abençoados sejam os encantos do erudito menestrel e do popular que escreve sobre o xéxeu:
O dia já vem raiando
Ouço o xexéu a cantar
Desperta, pois, minha velha
E vamos nos levantar.
Veste a tua saia depressa
Vai cuidar no café
Paulina, chama o Francisco
Raimunda, acorda o José.
Vou bater a minha enxada
O dia amanheceu já
Já ouço o compadre Chico
Batendo a dele acolá.
Maria leva uma cuia,
O saco, leva o João
Francisco vai cavar cova
Raimunda planta o feijão