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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 31 de maio de 2020

O “GOLEIRO LINHA” E O GOSTO DE INFÂNCIA - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.


Quem no país do futebol, quando criança ou adolescente, não participou das peladas ou “rachas”, em campos de pequenos espaços, calçadas e até nas áreas interiores das residências?
Achamos que todo menino, excetuando-se os almofadinhas, jogou futebol nessas condições, sonhando no futuro, com o aplauso dos estádios.
O nosso entendimento do futebol como elemento de inclusão, nasceu das peladas em que as formações iniciais dos times iam se modificando, à medida em que chegavam os retardatários.
Ninguém ficava fora da brincadeira: era chegar e entrar. Nos espaços de cimento ou barro, o couro comia e, além de divertir, contava contava com a meninada mais brava, que não queria perder; o que mais tarde seria definido por Romário como “brincar a sério”.
As leis do jogo eram simples e permitiam, nas calçadas e áreas, se apoiar e fazer tabelas usando as paredes. Já nos campinhos, geralmente cercados de vegetação, a bola só era considerada fora de jogo quando chegava no mato. Daí, o bordão adotado pela boleirada: “joga pro mato que é jogo de campeonato”.
Nesses rachas, o goleiro usava as mãos e os pés para defender e podia “desgarrar” em busca do ataque, desde que não perdesse a bola e deixasse o gol vazio. Aí, era uma ação considerada imperdoável, passível de todo tipo de insultos e reprovações do resto do time.
Quem nos remete a esse tempo carregado de saudade e infância, é o goleiro Felipe Alves, do Fortaleza, meio “descompromissado” com as tensões do jogo.
É ele o maior especialista da função de “goleiro linha”, tal qual ocorre na prática do futsal. Sai do gol, como um líbero (jogador da sobra), troca passes com os zagueiros e sugere uma leitura tática, incluindo o goleiro: 1-4-2-4.
Num jogo contra o Ceará, no Castelão, quando defendia o Oeste, Felipe Alves interveio num lance de ataque alvinegro, e saiu “chapelando” quem encontrou pela frente.
Há quem se detenha numa crítica ao caráter exibido e nos excessos, aqui e ali, de Felipes Alves. Mas, que seu estilo leve, tranquilo e moleque de jogar, nos permite uma viagem à nossa infância risonha e franca. Quando jogava-se por prazer. É uma verdade inarredável.

Grande Felipe Alves.

Um comentário:

  1. Prezado Wilton : No terreiro da casa do Sanharol, na minha época de menino, nos rachas a bola era um genipapo. Todo dia tinha racha e nunca faltava bola. Tinha um frondoso pé da fruta bem ao lado. Como prova e testemunho não tem nenhum do meu tempo que tenha as unhas dos pés completas.

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