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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 11 de agosto de 2020

1 - Sacerdotes Católicos que ficaram no imaginário popular do Cariri

 Padre Lourenço Vicente Enrile 


   O dia foi 13 de novembro de 1876. Em Crato, Sul da Província do Ceará, esta integrante do Império do Brasil, na Rua das Flores (atualmente denominada Rua Teófilo Siqueira), em casa do farmacêutico prático Secundo Chaves, um sacerdote de 43 anos – com o organismo minado pela tuberculose – sentia que sua existência terrena chegava ao fim.  Em meio à febre, acessos constantes de tosse e hemoptise, o Padre Lorenzo Vicenzo Enrile – primeiro reitor do Seminário São José – rendeu sua bela alma a Deus, nos braços do farmacêutico citado, seu benfeitor.

     Dias antes, Secundo Chaves, após muita insistência, conseguiu que o Padre Lourenço Vicente Enrile deixasse o prédio do Seminário São José, no Alto do Granjeiro (hoje bairro do Seminário) e viesse se tratar na sua residência. Na casa do boticário, o sacerdote teria melhor assistência para o tratamento da pertinaz moléstia. Debalde foram os esforços do farmacêutico. A morte levou, naquele dia, um de mais virtuosos sacerdotes que residiam em Crato...

   Padre Enrile nasceu em Finalborgo, Diocese de Savóia, na Itália, em 28 de fevereiro de 1833. Chegou ao Cariri em 1875, para colocar em funcionamento o Seminário São José. Aqui viveu menos de dois anos, tempo suficiente para alcançar – junto à sociedade cratense – o conceito de um sacerdote digno, piedoso e exemplar.

    Sobre o Padre Enrile assim registra o “Álbum do Seminário de Crato” (*) 

“Não se limitava a ação do primeiro reitor em guiar os destinos da casa, da posição em que o colocara o Sr. Bispo, mas entregava-se a todos os misteres. Desde a sala de aulas até a cozinha, sua atividade se desenvolvia a contento de todos os que habitavam o Seminário”.

“Trabalhava sem tréguas, durante o dia, e, à noite quando todos dormiam, ainda vigiando, percorria o dormitório e mais compartimentos da casa, não deixando de consagrar algum tempo ao estudo.

“Os primeiros albores da madrugada, como determinavam as regras da Congregação, já o encontravam no cumprimento do dever.

“Padre Enrile era um modelo de sacerdote católico, que reunia aos vastos conhecimentos de que era possuidor uma piedade sólida, haurida em Paris na Casa Mãe dos Lazaristas. Manejava a língua portuguesa com rara facilidade, de modo que prendia a atenção de todos quando proferia seus memoráveis sermões. À capela do Seminário, em meio de grande massa popular, afluía, ainda, o que o Crato tinha de intelectual naquele tempo, para ouvir a palavra fácil e erudita do Padre Enrile”.

“Em todos os misteres do sacerdócio, era o Padre Enrile exato e admirável. Edificava o povo, quando após os trabalhos do Seminário, saía em busca dos moribundos levando-lhes o pão dos anjos e o conforto de sua palavra cheia de unção”.

“Quando do seu falecimento, a população em peso acorreu ao Seminário e de todos os olhos caiam lágrimas a fio, e todos os lábios ciciavam preces pelo repouso da alma do prateado morto”. “Jamais se assistira (até aquela data) em Crato a enterro tão concorrido e a morte tão chorada” ...

       Os veneráveis restos mortais do Padre Enrile encontram-se sepultados numa das colunas da capela do Seminário São José.


Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

Referências Bibliográficas

(*) LEMOS, Padre Emygdio. Albvm Historico do Seminário do Crato–1875-1925. Typ. Revista dos Tribunaes. Rio de Janeiro, 1925. Páginas 51/54.
 

Um comentário:

  1. Um grande resgate da história dos primórdios das ações da Igreja Católica, Apostólica Romana na região. Parabéns.

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