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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 18 de abril de 2024

Crônicas e contos - Por Antônio Morais.

O padre e as duas malas - Doce de Pimenta, Livro do Dr. Mozart Cardoso de Alencar.

Era um ano de copioso inverso. O Bispo havia transferido o padre de uma paróquia para outra. A saída da cidade tinha que ser feita atravessando obrigatoriamente o leito de um rio, que passava ao pé do subúrbio, e nesse dia o rio estava cheio, transbordando.

O padre chega à margem do rio e entrega duas malas ao caboclo, dono de uma balsa de paus flutuantes com que explorava o comercio do transporte de pessoas e de cargas para a outra margem. 

Entrega as malas e vai dizendo: Seu Zé, preste bem atenção: essa mala aqui é da igreja, ela conduz cousas sagradas: o cálice, a âmbula, as hóstias, as galhetas de vinho, paramentos, opas, quadros e estatuetas de santos, tenha todo cuidado com ela! Essa outra é a mala que leva minhas roupas e meu dinheirinho.

O caboclo lança-se sobre o dorso dos vagalhões das águas barrentas guiando a frágil embarcação. Poucos minutos depois, lá do meio do rio, grita o caboclo: Seu padre, o peso é demais! A balsa vai virar! É preciso empurrar dentro do rio uma das malas, qual é a que eu salvo?

Ao que o Padre, aflito, em desespero, respondeu: Salve a do dinheiro – E o poeta ironizou:

Salve a mala do dinheiro!

Deixe a do santo afogada!

Com dinheiro eu compro santo!

Com santo eu não compro nada!

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