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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

COM MENOS AÇUCAR E AFETO. CHICO EXAGEROU? - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

Chico Buarque suprimiu do seu repertório de shows a música "Com açúcar e com afeto".

Datada, a música solicitada a Chico por Nara Leão, empoderada cantora do seu tempo, foi tida como machista e ofensiva a mulher.

Com a permissão para o  quadradismo do meu texto, vou dar um pitaco sobre esse assunto.

A minha "mexida na cocada" se dá por apreciar muito essa música, uma das melhores desse gênio musical brasileiro.

Sim, a letra bem construída, retrata a mulher submissa, inaceitável nos dias de hoje.

Ao se tornarem independentes, as mulheres, esses seres maravilhosos que nos põem no mundo, viraram o jogo e modificaram o "regulamento".

Sepultaram a Amélia que Ataulfo Alves cantava, celebrando-a como a mulher de verdade.

Aquela que se dispunha a passar fome, desde que ao lado do homem que amava.

Errado tanto quanto invadir a Rússia no inverno.

Mas, não teria Chico Buarque exagerado na dose (já gostou muito) ao tomar essa atitude de autocancelamento?

Na música de Chico, o marido sai de casa, negligencia o trabalho, toma todas nos bares que encontra e volta para casa fragilizado.

Encontra o porto seguro nos braços da mulher que o aceita por amor.

Um amor docemente irresponsável, mas amor.

Tem amor de todo jeito.

"Com açúcar e com afeto" traz lirismo e denúncia, ao mesmo tempo.

O seu veto pelo poeta não seria, como já se apontou, também, "roubar um pouco da nossa humanidade"?

A realidade de nossa vida é cinzenta.

Quanto a isso não se pode escamotear.

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