Chico Buarque suprimiu do seu repertório de shows a música "Com açúcar e com afeto".
Datada, a música solicitada a Chico por Nara Leão, empoderada cantora do seu tempo, foi tida como machista e ofensiva a mulher.
Com a permissão para o quadradismo do meu texto, vou dar um pitaco sobre esse assunto.
A minha "mexida na cocada" se dá por apreciar muito essa música, uma das melhores desse gênio musical brasileiro.
Sim, a letra bem construída, retrata a mulher submissa, inaceitável nos dias de hoje.
Ao se tornarem independentes, as mulheres, esses seres maravilhosos que nos põem no mundo, viraram o jogo e modificaram o "regulamento".
Sepultaram a Amélia que Ataulfo Alves cantava, celebrando-a como a mulher de verdade.
Aquela que se dispunha a passar fome, desde que ao lado do homem que amava.
Errado tanto quanto invadir a Rússia no inverno.
Mas, não teria Chico Buarque exagerado na dose (já gostou muito) ao tomar essa atitude de autocancelamento?
Na música de Chico, o marido sai de casa, negligencia o trabalho, toma todas nos bares que encontra e volta para casa fragilizado.
Encontra o porto seguro nos braços da mulher que o aceita por amor.
Um amor docemente irresponsável, mas amor.
Tem amor de todo jeito.
"Com açúcar e com afeto" traz lirismo e denúncia, ao mesmo tempo.
O seu veto pelo poeta não seria, como já se apontou, também, "roubar um pouco da nossa humanidade"?
A realidade de nossa vida é cinzenta.
Quanto a isso não se pode escamotear.
Uma bela crônica, disse tudo. Não há o que se acrescentar.
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