A imagem da Mãe do Belo Amor, pequena escultura de madeira, medindo cerca de 40 centímetros, é venerada, desde os primórdios da Missão do Miranda – origem da cidade de Crato – que data do segundo quartel do século XVIII. Esta estátua sempre foi aureolada por muitos fatos pitorescos e lendários. Monsenhor Rubens Gondim Lóssio, escrevendo sobre esta representação da Virgem Maria, em trabalho publicado na revista Itaytera, afirmou: “Herdada dos ancestrais indígenas, existia uma pequena imagem da assim chamada Nossa Senhora do Belo Amor, de todos venerada”.
Não nos foi possível apurar as razões que levaram Monsenhor Rubens a concluir que a imagenzinha da Mãe do Belo Amor fora herdada dos indígenas, primeiros habitantes do Vale do Cariri. Entretanto, no artigo já citado, ele menciona um fato que merece transcrição. Na segunda metade do século XX, um conhecido e respeitado ancião cratense, o Sr. José da Silva Pereira, secretário do Apostolado da Oração de Crato, escreveu ao então vigário da Catedral, Monsenhor Francisco de Assis Feitosa, um documento, do qual extraímos o texto a seguir transcrito:
Há na nossa Catedral três imagens que representam nossa padroeira, Nossa Senhora da Penha. O que vou narrar nestas linhas se refere somente à primeira, que é a menor das 3, esculpida em madeira, como as duas últimas. Trata-se de uma bela imagem que honra a arte antiga e a habilidade de quem a preparou. Segundo dizem os antigos, ela tem para mais de duzentos anos, mas nada deixa a desejar às que se fazem atualmente. Pertencendo ao número das imagens aparecidas, ela tem também a sua lenda bastante retocada de suave poesia. Conta-se que fora encontrada em poder dos índios (sem dúvida os Cariris), passando às mãos de pessoa civilizada. Aqui toma vulto a lenda que gira em torno do seu nome, pois afirmava que, repetidas vezes, ela voltara ao cimo de pedra onde os indígenas a veneravam. Este fato miraculoso deu lugar à fundação da Capela, onde hoje é a nossa Catedral, naquele mesmo sítio, tão profundamente respeitado. Quanto à idade que lhe atribuem, provam-na os documentos referentes à fundação da povoação, hoje transformada nesta importante Cidade de Crato. Para mais corroborar o misticismo que a tradição empresta à nossa querida santa, ocorre que esta desapareceu de nossa igreja há mais de cinqüenta anos, voltando agora aos seus penates, onde está sendo venerada por grande numero de fiéis. Os antigos deram-lhe o nome de “Belo Amor”, o que prova a piedade filial dos nossos antepassados. Respeitemos o passado, sua história, suas tradições e suas lendas, que nos falam sempre daqueles que abriram caminho a nossa vida. (LÓSSIO, 1961: 47).
Não existem documentos sobre a origem da imagem da Mãe do Belo Amor. Também não se sabe, ao certo, se essa pequena escultura já se encontrava no Sul do Ceará, antes de 1740, ano da chegada de Frei Carlos Maria de Ferrara, para catequizar os índios Cariris, quando fundou a Missão do Miranda, embrião da cidade de Crato. Ressalte-se que, antes da chegada do frade, já tinha o Vale do Cariri certa densidade demográfica, embora não possuísse ainda nenhum aldeamento ou povoado considerável, o que só veio a se formar após 1740. Daí ser possível que a imagem da Mãe do Belo Amor já se encontrasse no Vale do Cariri, antes da vinda do fundador de Crato. Presume-se, pois, que até 1745 esta pequena imagem foi venerada na humilde capela de taipa, coberta de palha, construída por Frei Carlos, isto é, até a chegada da segunda imagem que seria venerada como Padroeira de Crato.
Fontes de consulta para o artigo acima:
ResponderExcluirLÓSSIO, Rubens Gondim. Artigo “Nossa Senhora da Penha de França, Padroeira do Crato” Revista “Itaytera”, ano VI, nº VI, órgão do Instituto Cultural do Cariri. Tipografia A Ação, Crato (CE) 1961.
(PINHEIRO, Irineu. Cidade do Crato. Ministério da Educação e Cultura. Rio de Janeiro, 1955.)