Hoje é um dia muito triste para todos nós, daí a necessidade de fazer uma rápida reflexão. Final dos anos 60, época de mudanças de pensamento em todo o mundo, fiz pré-admissão ao ginásio numa escolinha particular com a educadora Iraci Bezerra de Morais.
O grande respeito que nutria pela professora, esposa de Pedro Piau, fez-me aproximar da grande família. Admirador de Ozanam, Geraldina e João Morais; colega de turma de Joaquim; amigo de Rita Maria, de Sérgio e de Paula, passo em revista as minhas saudáveis lembranças.
O carinho que eu detinha pela professora era tão grande, que dos três convites que recebi no meu término de curso de oitava série, um foi dedicado a ela. E o mais interessante é que o ente familiar que menos contato eu tinha naqueles tempos vividos foi o que mais se aproximou de mim na atual conjectura de vida.
Falo de Raimundinho Piau, o espetacular poeta Mundim do Vale. A Prosa, o Cordel e o interesse pela memória de nossa gente nos fizeram uma só carne. Fomos unidos por um ideal comum, do qual me orgulho muito.
O imbatível poeta varzealegrense falava com a alma, sem nenhum esforço poético e o mote sempre lhe era dado pelas autênticas batidas do coração. De rima e métrica impecáveis, construía enredos e misturava palavras como se fossem tintas em uma tela. Retratava temas cotidianos com a desenvoltura dos grandes mestres.
Além de suas inúmeras qualidades literárias, era um profundo conhecedor dos autores da nova e da velha geração do Cordel brasileiro. Dava aulas magistrais da poética nordestina com simplicidade e tirocínio.
Ah Mundim, como relembro os grandes embates poéticos... No Céu, você animará uma plêiade de espíritos sedentos de poesia. Vá em paz!
Mundim do Vale:
Amigo Sávio Pinheiro,
daqui do céu lhe pergunto,
diga-me qual o assunto
que devo saber primeiro.
Vim de solo brasileiro
ao plano celestial.
Desde à pia batismal
que faço autêntica poesia,
porém neste fatal dia
deixo a vida natural.
Sávio Pinheiro:
Mundim do Vale, poeta,
respondo em cima da hora,
o povo daqui agora
sente tristeza completa.
Sua poesia predileta
subiu às mãos de Jesus.
Os versos ficaram nus,
foram-se lindos poemas,
hoje, recitam seus temas:
você, que sempre fez jus!
Mundim deixa um legado de exemplos de dignidade, decência, honradez, humildade, caráter, inteligência e lealdade.
ResponderExcluirQuando o tempo e a historia fizer a devida justiça Mundim do Vale será lembrado por todo o seu trabalho na disseminação da memória de Várzea-Alegre e do seu povo.