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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Mundim do Vale - Por Dr. Sávio Pinheiro.

Hoje é um dia muito triste para todos nós, daí a necessidade de fazer uma rápida reflexão. Final dos anos 60, época de mudanças de pensamento em todo o mundo, fiz pré-admissão ao ginásio numa escolinha particular com a educadora Iraci Bezerra de Morais. 

O grande respeito que nutria pela professora, esposa de Pedro Piau, fez-me aproximar da grande família. Admirador de Ozanam, Geraldina e João Morais; colega de turma de Joaquim; amigo de Rita Maria, de Sérgio e de Paula, passo em revista as minhas saudáveis lembranças. 

O carinho que eu detinha pela professora era tão grande, que dos três convites que recebi no meu término de curso de oitava série, um foi dedicado a ela. E o mais interessante é que o ente familiar que menos contato eu tinha naqueles tempos vividos foi o que mais se aproximou de mim na atual conjectura de vida. 

Falo de Raimundinho Piau, o espetacular poeta Mundim do Vale. A Prosa, o Cordel e o interesse pela memória de nossa gente nos fizeram uma só carne. Fomos unidos por um ideal comum, do qual me orgulho muito.

O imbatível poeta varzealegrense falava com a alma, sem nenhum esforço poético e o mote sempre lhe era dado pelas autênticas batidas do coração. De rima e métrica impecáveis, construía enredos e misturava palavras como se fossem tintas em uma tela. Retratava temas cotidianos com a desenvoltura dos grandes mestres. 

Além de suas inúmeras qualidades literárias, era um profundo conhecedor dos autores da nova e da velha geração do Cordel brasileiro. Dava aulas magistrais da poética nordestina com simplicidade e tirocínio.

Ah Mundim, como relembro os grandes embates poéticos... No Céu, você animará uma plêiade de espíritos sedentos de poesia. Vá em paz!

Mundim do Vale:

Amigo Sávio Pinheiro,

daqui do céu lhe pergunto,

diga-me qual o assunto

que devo saber primeiro.

Vim de solo brasileiro

ao plano celestial.

Desde à pia batismal

que faço autêntica poesia,

porém neste fatal dia

deixo a vida natural.

Sávio Pinheiro:

Mundim do Vale, poeta,

respondo em cima da hora,

o povo daqui agora

sente tristeza completa.

Sua poesia predileta

subiu às mãos de Jesus.

Os versos ficaram nus,

foram-se lindos poemas,

hoje, recitam seus temas:

você, que sempre fez jus!

Um comentário:

  1. Mundim deixa um legado de exemplos de dignidade, decência, honradez, humildade, caráter, inteligência e lealdade.
    Quando o tempo e a historia fizer a devida justiça Mundim do Vale será lembrado por todo o seu trabalho na disseminação da memória de Várzea-Alegre e do seu povo.

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