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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 11 de maio de 2009

Santo furtado e açoitado.

Num ano de chuvas escassas, bem diferente de 2009, aconteceu essa historia enviada por Mundim do Vale: “Essa quem me contou foi o músico Pedro Sousa de saudosa memória. Em Janeiro de 1958, Laura da Formiga plantou um roçado de duas tarefas de arroz no baixio de Antônio do Sapo. Com algumas chuvas o legume nasceu e cresceu até a altura de um palmo, a folha de um verde escuro era a coisa mais linda para os olhos de um agricultor.
Laura dizia:- Isso aqui com fé em meu São José é arroz pra mais de quinze quartas. A chuva foi diminuindo até que parou total. Laura esperou até o dia de São José padroeiro do Ceará e nada. A palha murchou, secou e o vento carregou deixando só o tronco esperando pelo milagre das chuvas para se recuperar.
Laura tava se lamentando quando chegou Vicente Tudo dizendo que se ela roubasse um santo à chuva retornava. Foi aí que Laura perguntou: E é? Apois eu vou robar logo é São José, que eu sei onde é que tem um. Quando foi à noite Laura foi à casa da sua prima Bárbara começou a conversar quando sua prima foi coar um café ela foi ao santuário e afanou São José que estava ao lado de são Pedro. Pegou o santo enrolou numa rodia disfarçou por ali, depois levou para casa. Mas passou uma semana e nada de chuva.
Quando ela perdeu as esperanças pegou o santo e saiu para o roçado. No caminho cortou logo um cipó de marmeleiro e levou junto. Chegando na roça pegou o santo pelo pescoço começou a esfregar a cara dele nos troncos do arroz dizendo assim:
Ta vendo o serviço que você fez? Eu plantei essa rocinha junto cum João meu irmão nós limpamos cum todo gosto, quando acabar você deixa acontecer uma desgraça dessa. Eu vou lhe dar umas cipuada que é mode você aprender. Ta escutando?
Enquanto Laura açoitava o santo João da Formiga foi chegando no aceiro da roça dizendo: Mas Laura, quem manda chuva pra nós num é São José não, é São Pedro. E é?
É.
Pruquê você num dixe logo? Apois eu vou deixar esse sem futuro lá no santuário de Barbinha e trazer aquele outro sem futuro amigo dele, qui é prumode eu fazer o mermo serviço. E tem mais uma coisa. Eu só vou ficar cum pena é das cipuadas qui eu errar e pegar no chão.
Eu não sei dizer aqui se houve retaliação dos santos porque eu acredito que eles não são vingativos. Mas o ano de 1958 foi um dos mais secos da terra do arroz”.
Mundim do Vale.

2 comentários:

  1. A coisa mais fácil de se fazer no Roçado Dentro era uma festa. Musico se tinha de “lavra”, a safra de grandes músicos era muito grande. Nas festinhas em casa de família aqueles mais adeptos da musica costumavam dançar a valer. Laura da Formiga, não dançava, ficava guaribando em pé encostadas na parede da casa. Os rapazes a convidavam para uma dança e ela se negava a atender. Um belo dia fizeram uma fila, e a coisa era mais ou menos assim: Vamos dançar Laura? Não vou! Com o próximo mesma coisa: vou não. Pedro Souza era o ultimo e quando a convidou ouviu: Eu não já disse que não vou, ora más tá! Pedro porque tu não vais à puta que pariu! Em toda essa vida foi a maior e mais bem dada mala que vi.

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  2. Você veja Morais. Os nossos primos da Formiga eramum povo de muita fé,
    mas possuiam na mesma proporção a igenuidade natural do nosso povo do sertão.
    Abraço.
    Mundim do Vale

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