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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 18 de julho de 2009

Coisa do Divino.

Valeriano que não batia bem da bola, vivia em Várzea-Alegre, todo tempo assustado. Ele se dizia perseguido pelo bando de Lampião e foi não foi, tava ele pulando, se entrincheirando, rolando pelo chão, apontando o dedo indicador e fazendo um pá,pá,pá com a boca para se defender do bando. Tirando dessas vinte e quatro horas de loucura por dia, era um excelente trabalhador da roça. Teve um ano que Valeriano pediu a Bizim uma tarefa de terra no Buenos Aires para plantar de meia. Roçou, fez cerca, e plantou: Milho, feijão, jerimum, melancia e algodão. Fez tudo que faz um bom roceiro. Como foi um ano bom de inverno a roça prosperou, só que os jerimuns e as melancias os cabras da Caiana furtaram. O milho e o feijão ele colheu no tempo certo e dividiu com Bizim. Ficou na roça apenas o algodão já todo com bilotos. No final de julho o algodão abril que a roça mais parecia um prato de coalhada. Mas Deus dá com as mãos e o diabo tira com os pés. Numa noite lá, que já não era mais nem tempo de inverno, deu umas trovoadas , com raios e relâmpagos e um raio escolheu entre mais de trezenas tarefas de algodão, logo o de Valeriano. Quando amanheceu o dia aquela roça que antes parecia um véu de noiva, tava parecendo mais um fundo de um taxo. Chegaram os curiosos começaram a comentar com tristeza e um deles mandou chamar Valeriano na rua do Capim. Quando Valeriano chegou que viu a roça toda queimada, sentou-se num tronco de aroeira que tinha sido poupado pelo raio baixou a cabeça sobre os joelhos e começou a falar indignado: Mais cuma é qui pode? Eu prantei essa roça cum todo coidado, tive tanto trabái, quando acabar acuntece uma disgraça dessa. Premêro foi os cão da Caiana qui robaro os girmum e as melancia. E agora vei esse condenado e atiou fogo no meu algodão, qui eu já ia cumeçar a catar amenhã. Mais tombém tem uma coisa, se eu pegar esse infiliz eu faço ele ingulir essa terra misturada cum a cinza. Basta eu saber quem foi o safado qui fez isso. Fático Fiusa que estava presente, notando que Valeriano não tinha a menor condição de entender os fenômenos da natureza, tentou explicar: Tenha calma Valeriano! Isso só pode ter sido coisa do Divino. Valeriano levantou a cabeça, abril os olhos e interrompeu Fático dizendo: Apois onton-se, vá dizer a Divino de Quilicero qui eu vou me vingar dele viu? Eu vou amarrar um ispeto na ponta duma taboca bem cumprida e ficar de tucáia ali no corredor das Melosa. Aí quando ele for passando eu dou uma futucada e adispois eu corro pra sisconder na casa de Leó lá no Riacho do Mei.;
Mundim do Vale.

Um comentário:

  1. Mundim.
    Quantas personagens prestimosas voce resgata de uma só vez: Bizim, Fatico, Divino, Clicerio, Leó, os sitios Riacho do Meio, Buenos Aires, Melosas, Caiana, a Rua do Capim etc. Quanto ao Valeriano, num desses anos de festa de Agosto animada, exatamente no dia 30, dia de São Raimundo ele foi a casa de Manuel do Sapo pedir uma tarefa de terra para planta no inverno vindouro. Manuel que era experiente e espirituoso deu uma cubado no futuro rendeiro e disse: Valeriano, está muito cedo, volte pra cidade, dê uma rodada na roda gigante, e em Dezembro me procure que vou pensar no seu caso.

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