Tem um cumpadi meu que tinha um bordão na maneira de falar que era assim: "O que é que ôce me diz, cumpadi?". Pois esse capiau tava bem acocorado numa bêra de calçada, juntamente com o outro cumpadi seu, que também tava do mesmo modo. Ou seja, acocorado. Aliás devo dizer que esse modo de sentar em riba dos calcanhares, acocorado, é bem próprio dos capiaus do meu Brasil. E ali, desse jeito, ficam horas matutando ou proseando, jogando conversa fora. Só que no caso desses dois aí eles não proseavam não. Apenas enrolavam, cada um no seu ritmo, um bom cigarrinho de palha. E tavam ali, naquele ritual caipira picando fumo e coisa e tal, quando de repente escutam um barulho esquisito, cujo o som era mais ou menos assim: blom... blom... blom... E, sem saber o que era e nem da onde vinha aquele barulho, eis que os dois, de modo sincronizado, olham para o céu.
Olha só com que aqueles capiaus se depararam: um grande, um bitelo dum elefante passava em riba da cabeça deles, voando, quase arrancando os chapéus de palha. Pensam vocês que os dois se assustaram com aquilo? Que nada! Acompanharam aquele enorme elefante voador, que batia as duas grandes e bitelas asas para desaparecer no horizonte.
Sem dizer uma palavra, apenas um olhar cúmplice de cabloco sabido, e voltaram ao velho cigarrinho de palha que, a estas alturas, já estava enroladinho com o fuminho goiano e pronto para ser levado à boca.
Mas - e tem sempre um mas - eis que um novo barulho, agora mais forte ainda, se ouviu: Blom... blom... blom... Novamente os olhares para o alto e então já não era apenas um elefante voador, mas dois. Dois bitelos com grandes asas, bem rentinhos à cabeça deles, dos meus cumpadis acocorados. E esses também sumiram no horizonte.
Os nossos personagens voltaram mais uma vez ao velho ritual do cigarrinho sem dizer nenhuma palavra sobre o ocorrido. Ou seja: os elefantes passaram voando e eles acompanharam o trajeto dos dito cujos, mas apenas se entreolharam e agora se preparavam para acender o gostoso goianinho pra móde pitá.
Dito e feito: acenderam os gostosos palheiros e, assim que deram a primeira tragada bem funda no peito, eis que um novo barulho se faz ouvir. Agora era demais! O barulho era dobrado. Quando os dois capiaus olha de novo para o céu, estavam ali, sobrevoando suas cabeças, nada menos do que quatro elefantes enormes, naquele barulho idêntico aos anteriores: blomm... blomm... blomm... E mais uma vez sumiram os dito cujos no horizonte, justamente como os anteriores.
Foi aí então que o meu cumpadi, o tal do conhecido bordão, resolveu lascar a pergunta que já se fazia demorar, diante de tão inusitado caso de tantos elefantes voadores naquela tarde calma:
CUMPADI 1 (bem calmo e arrastando no sotaque de capiau) - Então cumpadi! O que é que ocê me diz disso aí?
CUMPADI 2 (também calmo) - Eu digo que, pelo que eu acho, o ninho deve ser... logo ali. Pois foram tudo pro mêmo lado, uai.
E voltaram a tragar tranquilamente o fuminho.
Autor: Rolando Boldrin
Postado por: Glória Pinheiro
Glória, que belo texto. Que paz. Quanta tranquilidade. Boletos, promissórias, nem pensar. Que fuminho danado. Mas... o que é que ocê me diz?
ResponderExcluirEra Canabis, ou era só um fuminho goiano,mesmo?
Bela pintura do Boldrin!
Sávio, quê queu digo procê? Sou fã do autor e por obra Dele moramos no mesmo bairro. Imagine ocê quando o encontro no supermercado, padaria... Quase solto rojão! Outro dia ganhamos da Patrícia, a esposa, convites para assistirmos a gravação do programa. Pense como gostei! Por coincidência no dia haviam três cantoras (As meninas do Brasil) cantaram divinamente bem um chote que falava em Assaré. Aí já viu a cearense aqui transbordando de alegria. rs rs rs
ResponderExcluirMaria da Gloria.
ResponderExcluirNin de elefantes. Fez-me lembrar a minha parenta Klebia Fiuza que perdeu o Show de seu idolo Jerry Adriany por ter mandado o pai ir caçar nin de avião.
Segundo ela sempre que tomava a benção ao seu padrinho Joaquim Fiusa, ele dizia: Deus te abençõe. Já encontrou o nin de avião?
Esses cumpadis se não eram de Minas eram da Vagealegre.
A.Morais
Glória, o Boldrin é uma figura iluminada. Que bom pra você tê-lo por perto. Encontrar com ele regularmente deve ser muito bom. Parabéns!
ResponderExcluirNós, aqui de Várzea Alegre, nos contentamos com o Morais e o Mundim do Vale, os Boldrins do Sanharol.
Um dia desses, uma senhora me garantiu que uma vaca foi voando da praça do Ferreira, em Fortaleza, até a estátua de meu Padim Pade Ciço, no Juazeiro.
Acho que ela fumou com os cumpadi de Boldrim.
Saudações.
Pois é Morais. Li o comentário da Klebia Fiuza e achei engraçado. Nunca tinha ouvido falar sobre nin de avião.
ResponderExcluirDepois que ela perdeu o show com certeza passou a ter mais cuidado.
Não é verdade, Klébia? rs rs rs
Sávio, não duvido nada do poder desse fuminho goiano.
ResponderExcluirAlém do Boldrin, acho a Patrícia também iluminada e abençoada. Ela tem grande participação nos bastidores do programa. Além de ser uma das pessoas mais amáveis e simpáticas que já conheci.
Este ano a Escola de Samba Pérola Negra de São Paulo, estará homenageando Boldrin e sua participação na cultura brasileira.
Realmente, Morais e Mundim do Vale são os Boldrins de Várzea Alegre.
Várzea Alegre foi abençoada com os dois e o Sanharol também!!!
Maria da Gloria.
ResponderExcluirO Boldrin de Varzea-Alegre é o Dr. Jose Savio Pinheiro. O homem é medico, escritor e poeta. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, foi tomar posse no Rio de Janeiro para nosso orgulho e alegria.
Parabens mais uma vez Dr. Savio.
A.Morais
Ora, pois! Dr. Sávio chega assim de mansinho e não fala que é poeta dos bons e orgulho de Várzea Alegre. Confundiu-me, se é meu parente ou não... Sei que tenho um parente que se chama Sávio Pinheiro e é médico também. Morava em Fortaleza. Desconheço se nasceu em Várzea Alegre. Será que você é Sávio irmão de Diógenes? Os vi quando era adolescente e moraram por um curto período no Crato.
ResponderExcluirSaudação cearense
Glória. Os cumpadi com certeza eram mineiros, só faltou falar em trém. Você sabe que para mineiro tudo é trém. Ele só não chama de trém o próprio trém
ResponderExcluirUma vez um mineirinho estava com a mulher, os filhos e a bagagem esperando o trém na calçada da estação, quando o trém apontou a 500 metros, deu aquele apito esparrento o mineirinho falou:
- Ou muié junta aí os trém tudo. que a coisa já vem.
Muito bom o texto trazido por Gloria. Melhor ainda os comentários decorrentes da postagem. E eu aqui feito Klébia, caçando nin de avião...
ResponderExcluirForte abraço a todos...
Glória,
ResponderExcluirParabéns pela escolha desse texto, gostei muito. Mas o anterior... rs rs rs.......
Abraços
Magali
Glória, eu sou filho de Várzea Alegre, mas tenho parentes em Crato. Naquele município, faço parte da sétima geração de Papai Raimundo, pelo lado do meu avô materno, e da quinta, pelo lado da minha avó materna. Neste, sou primo da Ana Angélica, dos filhos de Clóvis e de Ari Macêdo e sou sobrinho da Celina, ex-madre do colégio Santa Tereza, etc.
ResponderExcluirGastronomicamente, aprecio baião de dois, pão de arroz, arroz mexido e arroz doce.
Enfim, sou da Rajalegre!
Raimundinho: Boldrin é de São Joaquim da Barra - SP, bem ao lado das Minas Gerais, é por isso que o "sotaque" dele é mineiro. Desde janeiro de 1972 descobri que tudo para os mineiros é trem. Aguarde que vem umas histórias de trem dos mineirim.
ResponderExcluirFlávio: Por onde anda Klébia que não vem contar mais histórias dela, em Várzea Alegre?
Magali, obrigada pelo comentário e por me fazer conhecer quais os textos que você mais aprecia. (risos).
Abração, minha amiga!
Como é bonito e belo ouvir
ResponderExcluirAs coisinhas matutas do sertão
Que agradam os leitores
Para isso tenho compaixão
Parabéns Glória Pinheiro
O texto Agradou a população
Esse homem muito simples
ResponderExcluirCorajoso e sem dinheiro
Com o pensamento voltado
De um dia ser fazendeiro
Para ir lá a São Paulo
Visitar Glória Pinheiro
att,
do amigo,
JOÃO BITU
João Bitu,
ResponderExcluirBonitas e belas são suas palavras.
Venha ser mais um colaborador do amigo Morais. Sua presença muito vai nos alegrar. Ainda mais sendo você um genuino Sanharolense.
Obrigada, amigo!
Um bom domingo para você e família.
Morais realmente É um cidadão cosmopolita. Você também faz parte do time, orgulho para todos nós da Comunidade Sanhorol termos uma colaborada do seu nível e que ama as cozinhas do sertão. O prazer foi todo meu, fica com Deus e um abraço extensivo a todos os seus familiares.
ResponderExcluirÔ Sávio,
ResponderExcluirEstou achando que somos parentes, sim, pelo menos por afinidade, a começar pelo sobrenome.
Você descende em duas gerações de Papai Raimundo do Sanharol.
Sou descendente de Papai Zeco dos Currais em duas gerações.
Somos, com muito orgulho, do Cariri Cearense.
“Gastronomicamente, aprecio baião de dois”, melhor ainda se for com pequi, queijo de coalho e paçoca; pão de arroz deve ser bom se for salgado; arroz mexido, você precisava provar da delícia feita por minha tia radicada há muitos anos em Ouro Preto-MG; quanto ao arroz doce, só provei uma vez feito pela minha querida avó materna. Depois de adulta também não apreciei uma sobremesa chinesa - bolinho doce de arroz com recheio de massa de feijão. Confesso fiquei curiosa para provar do arroz doce de Várzea Alegre que muitos de vocês, falam. Tapioca só se for salgada. O mungunzá doce de Recife foi uma penitência. Em 1966, de férias em Recife na casa de uma tia paterna, me vi na obrigação de comer essa iguaria pernambucana.
Depois do sacrifício, uma prima muito danada, resolveu me servir uma segunda porção, ainda mais farta. Fui salva por outra tia e madrinha que notando a peraltice da prima me libertou e deu-lhe uma bronca.
Com toda certeza minha mãe e minha irmã mais velha conheceram sua tia Madre Celina.
Um abraço fraterno
Glória