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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 4 de março de 2010

O artigo de Alberto Dines que foi censurado – postado por Armando Lopes Rafael


Alberto Dines – um dos nomes mais importantes da história do jornalismo brasileiro – foi censurado pelo portal Último Segundo, do iG. Há cinco anos Dines escrevia um artigo semanal para o portal; semana passada, para publicação na sexta, dia 27 de fevereiro, ele escreveu sobre a viagem de Lula a Cuba e a morte do preso político Orlando Zapata Tamaya.
“Fui avisado por telefone, horas depois, de que fora suspenso e a minha colaboração interrompida”, contou Dines, em mensagem a amigos. “Em Cuba as coisas são mais transparentes.”

No Observatório da Imprensa, Dines conta todo o episódio.
Há dezenas de colunistas e blogs ligados ao iG, sobre os mais diferentes temas, de cozinha a esportes, literatura, moda, celebridades. Sobre política, com a saída de Alberto Dines, agora só há três blogs ligados ao portal: os de Luis Favre, Luís Nassif e Ricardo Kotscho. Três petralhas.
É um perfeito exemplo de como funcionam as coisas no petismo, na Cuba dos irmãos Castro, na Venezuela de Chávez: opinião, só se for a favor.
Eis o artigo censurado:

O azar dos sortudos
Alberto Dines

Tem fama de afortunado, ditoso ou, como diz o povo, empelicado. Mas nem tudo foram flores quando Lula enveredou pela política: perdeu três pleitos presidenciais sucessivos e já começava a ficar com fama de perdedor quando os ventos mudaram e embora não fosse surfista enganchou-se nas ondas certas.
Nestes últimos oito anos, inspirado pelos astros ou pelo bom senso, Lula acionou corretamente
todos os botões mesmo quando os companheiros cometiam as barbaridades do mensalão e do dossiê Vedoin. Animado pela infalibilidade cometeu há um ano monumental asneira ao escolher José Sarney para presidir o Senado. Ainda não pagou por ela mas não está longe o dia em que será julgado pela complacência na desmoralização do Legislativo e na proteção a um dos coronéis mais corruptos da história do Nordeste.
A viagem ao México e Caribe prometia ser um cruzeiro de férias: em Cancun, na Cúpula das Américas, deveria envergar a confortável guayabera presenteada pelo anfitrião Filipe Calderon aos participantes homens (excluídas as mulheres) e participar de mais um bloco continental, não-carnavalesco, a “OEA do B”, sem a participação dos EUA e Canadá.
Em Cuba encontraria Fidel Castro, em franca recuperação, e talvez incentivasse as negociações recém iniciadas com os EUA cumprindo o seu papel de contrapeso à insanidade de Chávez. Não foi avisado ou não deu importância à informação de que o dissidente cubano, Orlando Zapata, em greve de fome há 85 dias, fora internado em estado grave uma semana antes num hospital de Havana.
Como a Parca não distingue sortudos dos azarados, o anúncio da morte de Zapata correu o mundo justamente quando o avião da Força Aérea Brasileira aterrava em Havana e Lula, feliz da vida, preparava-se para abraçar os irmãos Castro. Boas estrelas são volúveis, a sorte é movediça, pior ainda: imprevisível.
O presidente Lula atrapalhou-se ao explicar por que não atendera ao pedido dos dissidentes cubanos para interceder em favor de Zapata e cometeu uma barbaridade ao desqualificar o sacrifício do militante oposicionista. Ignorou ostensivamente a heróica jornada do Mahatma Gandhi que dobrou o invencível império britânico graças às greves de fome.
Desprezar a imolação e depreciar o martírio é uma forma de compactuar com aqueles que não permitem outra alternativa senão a imolação e o martírio. Invocando princípios religiosos Lula foi anti-religioso, ao buscar a racionalidade associou-se aos irracionais que relativizam as liberdades para defender o arbítrio. Não contente, em entrevista aos jornalistas cubanos, fez um apelo à ousadia de Obama para acabar com o embargo econômico dos EUA a Cuba.
Este embargo ianque é estúpido, desumano, imoral e inútil, Obama está empenhado em suspendê-lo, mas considerá-lo como único responsável pela ditadura cubana – como fizera na véspera seu homólogo, Raúl Castro – é um raciocínio primário à altura do intelecto de Hugo Chávez.
Atarantada por suas próprias mazelas, a imprensa internacional não deixou sem comentários o simplismo do nosso presidente. O prestigioso diário espanhol El País, o mais importante do mundo ibero-americano, lamentou a oportunidade perdida pelo dirigente brasileiro para forçar o regime cubano a respeitar os direitos humanos.
“O silêncio de Lula diante de uma ditadura como a castrista macula o que ele representa para a América Latina e à medida em que o Brasil se fortalece como potencia emergente, para o resto do mundo.” Não se trata de uma opinião pessoal do correspondente no Brasil, Juan Árias – geralmente cordato – mas da opinião institucional de um grande jornal que recentemente ofereceu a Lula um honroso galardão.
Negociar com todas as partes em conflito é a principal ferramenta da diplomacia, mas a confiança dos interlocutores não pode ser conquistada à custa do sacrifício de valores universais. Remember Munique: as concessões pragmáticas de Chamberlain e Deladier, ao invés de aplacar Hitler, só aumentaram a sua ferocidade.
A sorte é imponderável, inexplicável, mas consta que sortudos têm boa memória.

3 comentários:

  1. Armando.

    O Brasil não tem nada a ganhar com essa simpatia aos Castros, Chaves e Zelaias. Na hora do aperto abre. Em Honduras foi desconhecida a posição tomada. Zoada todos costumam fazer. Quero ver mesmo é na hora final quem aguenta o rojão.

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  2. O portal IG age assim porque tem contratos valiosos para a publicidade do governo federal. A chapa branca lá corre solta, basta lembrarmos dos textos que Paulo Henrique Amorim escrevia quando estava por lá. Nem mesmo os petistas conseguiam defender Lula como ele. É essa a grande democracia que o PT quer para o Brasil...

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  3. Não costumo ver o portal ig, mas agora prestarei mais atenção, obrigado pela dica. Um homem morre em cuba logo que o presidente Lula chega à ilha. Não tendo dados suficientes para saber o que esse cidadão pretendia, não posso emitir minha opinião. Aqui mesmo em nosso país, um padre, contrariando todas as normas técnicas, também fez greve de fome contra a tranposição do Rio S. Francisco. O Lula teve um encontro com ele e, em uma rápida conversa demoveu-o desse ato tresloucado. Quanto à matéria sensurada do Dines, depois de ler não vi motivos para tal, como ele mesmo disse: (...)inspirado pelos astros ou pelo bom senso, Lula acionou corretamente.
    Concordo com ele nesse ponto, e ponto final.

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