Meu irmão Aílton tem um cunhado, Antônio Moreira Aragão, mais conhecido por Aragão, há vários anos residente na Bahia, onde parece haver criado juízo. Enquanto morou no Crato e em Fortaleza, Aragão foi uma fonte de preocupações para seus pais. Aprontou muito, tanto lá, quanto cá.
Como animador de festa, Aragão se transformava na própria festa. Sempre era arrodeado por crianças, que acompanhavam atentas às suas brincadeiras. Em certas ocasiões, ele se transformava em mágico, para encantamento de adultos e crianças.
Numa reunião de aniversário na casa de Aílton, Aragão fez sumir, como que por encanto, uma nota de cem cruzeiros amarrada em um lenço, à vista de todos os presentes. Depois desatava o lenço vazio. Como os mágicos profissionais, ele não deixava ninguém perceber como subtraíra a cédula de dentro do lenço antes de dar o nó. E todos procuravam onde estava a nota, principalmente o dono dela, no caso, o meu irmão Aílton, para em seguida encontrá-la repousando no bolso da calça do Aragão.
Certa vez, Aragão, recém-chegado de Fortaleza, saiu sozinho para se divertir no Aquarius, uma casa noturna do centro da cidade do Crato. Lá chegando, sentou-se a uma mesa, onde já se encontravam quatro adolescentes. Então começou a conversar com as meninas, num desembaraço sem igual, imitando um carioca e se dizendo recém-chegado do Rio de Janeiro. Uma delas, que ainda era criança quando Aragão saiu do Crato para Fortaleza, notou que ele não a havia reconhecido, e disse para as companheiras:
– Esse cara é um enrolão. Ele não é carioca coisa nenhuma. É um roedor de pequi aqui mesmo do Crato.
– Pô, você está muito enganada. Esta é a primeira vez que venho aqui nesta cidade. Não sei nem o que é essa coisa que você falou aí sobre roer. Você deve estar me confundindo com outra pessoa. – disfarçou o pseudo-carioca, procurando carregar mais ainda no sotaque.
– Que nada, você não me engana, não. Eu o conheço. Você é Antônio Aragão, filho de dona Ivone, que mora lá perto do Cine Moderno!
– Ai, é mesmo! – respondeu concordando, admirado e surpreendido pelo flagrante, o roedor de pequi.
Numa época em que a nossa sociedade era mais exigente na pureza da elite e na seletividade de seus membros, ter aceso a um clube social somente sendo sócio. Em dias de festa, era exigido traje passeio completo para os homens. O Crato Tênis Clube, réplica perfeita do Maguari em Fortaleza, realizava as mais memoráveis festas. A da Rainha do Algodão, então, era a mais concorrida.
Segundo meu irmão, que tomou conhecimento do fato algum tempo depois, numa dessas festas a rigor, Aragão saiu direto da boite de Glorinha, uma famosa casa de prostituição, onde se encontravam as mulheres de vida livre, porém não tão fácil, como se dizia. Lembrando-se da festa, convidou duas das mulheres daquela casa para o acompanharem até o Crato Tênis Clube. As mulheres, recém-chegadas da Bahia, aceitaram o convite, achando ser prova de muita consideração e uma delicadeza daquele jovem. Era uma dessas festas na qual a fina flor da sociedade cratense acorria. Ao tentar ingressar no clube, Aragão foi barrado pelo porteiro, que polidamente se dirigiu a ele pelo primeiro nome:
– Antônio, você pode entrar aqui a qualquer hora, mas elas duas não podem entrar.
– Por quê? – quis saber o cunhado do meu irmão.
– Porque estas duas donas que estão com você são suspeitas.
– Suspeitas, uma ova! Suspeitas são aquelas que estão aí dentro do clube. Estas duas aqui são mesmo! Não resta a menor dúvida! – falou indignado Aragão.
Após essa resposta, Aragão saiu com suas companheiras para o Restaurante do Ferrer, em Juazeiro, onde acontecia uma festa bem mais liberal.
Extraido de "Histórias que vi, ouvi e contei" de Carlos Eduardo Esmeraldo, Premius Editora, Fortaleza, 2005
Como animador de festa, Aragão se transformava na própria festa. Sempre era arrodeado por crianças, que acompanhavam atentas às suas brincadeiras. Em certas ocasiões, ele se transformava em mágico, para encantamento de adultos e crianças.
Numa reunião de aniversário na casa de Aílton, Aragão fez sumir, como que por encanto, uma nota de cem cruzeiros amarrada em um lenço, à vista de todos os presentes. Depois desatava o lenço vazio. Como os mágicos profissionais, ele não deixava ninguém perceber como subtraíra a cédula de dentro do lenço antes de dar o nó. E todos procuravam onde estava a nota, principalmente o dono dela, no caso, o meu irmão Aílton, para em seguida encontrá-la repousando no bolso da calça do Aragão.
Certa vez, Aragão, recém-chegado de Fortaleza, saiu sozinho para se divertir no Aquarius, uma casa noturna do centro da cidade do Crato. Lá chegando, sentou-se a uma mesa, onde já se encontravam quatro adolescentes. Então começou a conversar com as meninas, num desembaraço sem igual, imitando um carioca e se dizendo recém-chegado do Rio de Janeiro. Uma delas, que ainda era criança quando Aragão saiu do Crato para Fortaleza, notou que ele não a havia reconhecido, e disse para as companheiras:
– Esse cara é um enrolão. Ele não é carioca coisa nenhuma. É um roedor de pequi aqui mesmo do Crato.
– Pô, você está muito enganada. Esta é a primeira vez que venho aqui nesta cidade. Não sei nem o que é essa coisa que você falou aí sobre roer. Você deve estar me confundindo com outra pessoa. – disfarçou o pseudo-carioca, procurando carregar mais ainda no sotaque.
– Que nada, você não me engana, não. Eu o conheço. Você é Antônio Aragão, filho de dona Ivone, que mora lá perto do Cine Moderno!
– Ai, é mesmo! – respondeu concordando, admirado e surpreendido pelo flagrante, o roedor de pequi.
Numa época em que a nossa sociedade era mais exigente na pureza da elite e na seletividade de seus membros, ter aceso a um clube social somente sendo sócio. Em dias de festa, era exigido traje passeio completo para os homens. O Crato Tênis Clube, réplica perfeita do Maguari em Fortaleza, realizava as mais memoráveis festas. A da Rainha do Algodão, então, era a mais concorrida.
Segundo meu irmão, que tomou conhecimento do fato algum tempo depois, numa dessas festas a rigor, Aragão saiu direto da boite de Glorinha, uma famosa casa de prostituição, onde se encontravam as mulheres de vida livre, porém não tão fácil, como se dizia. Lembrando-se da festa, convidou duas das mulheres daquela casa para o acompanharem até o Crato Tênis Clube. As mulheres, recém-chegadas da Bahia, aceitaram o convite, achando ser prova de muita consideração e uma delicadeza daquele jovem. Era uma dessas festas na qual a fina flor da sociedade cratense acorria. Ao tentar ingressar no clube, Aragão foi barrado pelo porteiro, que polidamente se dirigiu a ele pelo primeiro nome:
– Antônio, você pode entrar aqui a qualquer hora, mas elas duas não podem entrar.
– Por quê? – quis saber o cunhado do meu irmão.
– Porque estas duas donas que estão com você são suspeitas.
– Suspeitas, uma ova! Suspeitas são aquelas que estão aí dentro do clube. Estas duas aqui são mesmo! Não resta a menor dúvida! – falou indignado Aragão.
Após essa resposta, Aragão saiu com suas companheiras para o Restaurante do Ferrer, em Juazeiro, onde acontecia uma festa bem mais liberal.
Extraido de "Histórias que vi, ouvi e contei" de Carlos Eduardo Esmeraldo, Premius Editora, Fortaleza, 2005
Prezado Carlos.
ResponderExcluirA historia do Aragão me fez lembrar a do Laurenio Feitosa, meu amigo, filho do saudoso Kleber Maia Cabral, funcionario do Banco do Brasil e pessoa da maior estima. Chengando em Varzea-Alegre o Laurenio se botou a conquistador. Rodeado de meninas a ponto de escolher a pretendente mais bonita. Lá pras tantas eu achei de dar um adjetorio informando ser o Laurenio pessoa boa, amiga e da alta sociedade do Crato. Foi aí que uma delas disse: Morais eu conheço ele, a mulher dele e os dois filhos. Botou a caçada no mato.
O CLUBE RECREATIVO DE VÁRZEA ALEGRE TAMBÉM SUAS HONROAS FESTAS DIRECIONADAS APENAS A PARTE DA SOCIEDADE. JÁ AGORA TUDO É LIBERDADE QUE VIROU LIBERTINAGEM.
ResponderExcluirJÁ ESSA DE TENTAR SE PASSAR POR CARIOCA FOI BOA.. E COMO SEMPRE O MORAIS PEGANDO A DEIXA; A NOSSA VARZEA DE TUDO TEM O QUE CONTAR. POR ISSO É QUE VARZEA ALEGRE É NATUREZA
Carlos, já estou saboreando o seu livro,você faz a gente voltar ao tempo de criança .As estórias de Trancoso de Sulino,quem foi criança teve o sabor de ouvi-las também.Muitos Sulinos existiram por aí fantasiando as mentes de muitas crianças.Parabéns.Escreva outro livro.Um abraco
ResponderExcluirEita, Carlos,
ResponderExcluirAlém do humor, você abriu a tampa do baú de memórias, hem?
Adorei passear pelo seu enredo. E a maneira de contar tem a sua cara. (risos)
Abraço a você e Magali.
Claude
É...
ResponderExcluirCarlos
É sempre bom e agradável ler seus relatos memoráveis.
A Claude tem razão, diz que você abriu a tampa do baú. Eu acho que nunca mais fechou, por que está sempre nos envolvendo com o passado, e nos faz de verdade, passar pelo no Tunel do Tempo, trazendo personagens, muitas vezes nossos conhecidos que fizeram época e bem merecem o destaque.
Vicente Almeida
Caro Morais, Cláudio Sousa Rolim, Claude e Giovane Costa.
ResponderExcluirFiquei muito feliz por vocês terem gostado da historinha aqui inserida. Os comentários de vocês e os complementos que fizeram me deixam bastante incentivado.
Um grande abraço!
Aos Amigos: Morais, Cláudio Sousa, Rolim, e Giovani Costa.
ResponderExcluirFiquei muito feliz com os comentários de vocês que enriqueceram e complementaram o texto apresentado e muito me estimularam.
Muito obrigado e um grande abraço a todos.
Carlos,
ResponderExcluirA sua história é interessante. E olhando-a pelo lado da discriminação se torna atual. Não sou a favor da promiscuidade, mas que na nossa sociedade existe muita hipocrisia, isso é verdade. Aragão deu um belo recado à tão recatada sociedade. Não sou à favor, nem contra, muito pelo contrário.
Recebi o livro, porém ainda não pude degustá-lo devidamente.
Um abraço.
É...
ResponderExcluirCURIOSO:
Ontem fiz um comentário aqui sobre esta postagem e vejo que desapareceu, bem como outros comentários de outros companheiros.
O que houve? de 11 comentários registrados, só 5 aparecem.
É só no meu computador ou todos estão percebendo isto?
Vicente Almeida
QUE TERÁ ACONTECIDO POR AQUI VICENTE; NA FRENTE APARECE 12 COMENTARIOS; QUANDO AGENTE ABRE PRA VER SÓ 5 APARECE. QUE COISA ESSA.
ResponderExcluirque estranho!
ResponderExcluirGiovani Costa escreveu:
ResponderExcluirAmigo Carlos Eduardo,
É interessante que em todo lugar existe um Aragão. Suas estórias me lembrar do nosso tão inesquecível Lobão. O mais incrível que eu achava em Lobão é que ele não bebia, só vim saber disso depois de sua morte. porque eu achava incrível que uma pessoa sóbria, seríssima em sua vida, no trabalho, na família , pai de família, fosse capaz de se vestir de mulher, de noiva, de árabe, só para divertir os outros. Gostei muito e um forte abraço.
O problema é que no comentário do Giovani Costa existia no final um sem fim de linhas em branco, que fazia pensar que os comentários haviam acabado. Agora que apaguei, normalizou.
ResponderExcluirAbraços,
DM
É...
ResponderExcluirDihelson
Valeu. Você é realmente rápido no gatilho e consertou tudo para bem de todos.
É as nossas fotos que você me prometeu? Hein?
Vicente Almeida
Prezados Amigos.
ResponderExcluirOntem tentei postar um agradecimento a todos vocÊs. Havia cinco comentários, postei o meu e não apareceu, Repeti mais tres vezes e registrava haver nove comentários, mas os quatro que eu fiz foram p'ro brejo.
Hoje eles reapareceram,
Um abraço a todos.