Papai
(Claude Bloc)
Papai um dia me disse: estes são teus irmãos. E eu os abracei e os acolhi sob minhas asas. Amei-os, chorei suas dores, lamentei seus desacertos, vibrei com seus sucessos e brilhos próprios. Eu, a filha primogênita, tinha-os em mim como partes de mim. Seres de minh’alma.
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Enquanto pude os protegi, até que
cada um tomou seu rumo e construiu seu caminho.
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Papai não cercou nossa vida de
luxos nem de vaidades vãs. Se um dia tentou dedilhar nossos destinos, o fez
como um pai amoroso que cuida de suas crias. Sempre procurou nos ensinar que o
melhor caminho é aquele da honradez e da verdade.
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Permitiu que caminhássemos com
nossas próprias pernas, embora pudesse até vislumbrar réstias de desacertos e
traços de tristezas em nosso olhar. Havia uma sabedoria implícita em suas
atitudes... e nos deixou livres para que aprendêssemos a nos desembaraçar da
vida.
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Se no final da vida ele tropeçou
em seus próprios pés, também foi dessa forma que nos mostrou com humildade que
aquele não era o melhor meio de viver.
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Enfim, nós, seus filhos, não
podemos julgá-lo. Nenhum de nós esteve no front
numa guerra, nenhum de nós perdeu a juventude lutando de forma sangrenta numa
batalha que não lhe pertencia. Nenhum de nós perdeu tantos parentes e amigos numa
só guinada. E, mesmo assim, mesmo exilado pelo trabalho aqui no Brasil, papai
para mim foi um herói bem maior do que aqueles que muitas vezes são apregoados
pelo mundo. Não só porque era meu pai, mas porque, como homem honrado e leal
aos seus princípios, soube fazer de nós, seus filhos, pessoas de bem.
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Hoje me penitencio com sua falta.
Ele que foi muitas vezes incompreendido pelos que o amavam. Ele que se perdeu
na solidão quando lhe faltou chão e trabalho. Ele que se enclausurou em si
mesmo para amargar um insulamento voluntário. Preferiu mergulhar nos
subterfúgios por não conseguir mais reverter sua vida e suas paixões.
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Hoje não posso fazer mais nada a
não ser manter suas lembranças e suas marcas em mim e em minha vida consumindo
esta saudade eterna.
Claude Bloc
Claude.
ResponderExcluirParabens.
Você fala do seu pai com a brandura de uma grande filha que sempre foi.
É prazeroso e motivo de honra e felicidades ver uma filha lembrar de seu pai com o carinho que você faz.
Especialmente porque o conheci bem e, sei o quanto ele mereceu esse seu carinho e afeto de filha.
Deus te abençoe.
Antonio Morais.
Obrigada, Morais.
ResponderExcluirHá dias em que a saudade dele ainda machuca muito, pois ele era um pai muito amoroso.
Sempre fomos muito ligados, desde que eu era menininha... quase toda semana ele me lavava de Serra Verde ao Crato para que eu corrigisse um pouco a minha "matutice" e timidez...
Foi assim e através dele que aprendi a gostar do Crato...
Obrigada, mais uma vez.
Abraço,
Claude
Coisas que não esqueço