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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Dona Fideralina - Negros e Cabras.


Fazenda Tatu.

Extraído do livro – Ensaios e Perfis – Joaryvar Macedo.

O Tatu, sítio de sua propriedade e sob o seu comando, apesar de apresentar uma paisagem peculiar, era semelhante a tantas outras da região, regularmente organizadas, com a casa-grande, a capela, o engenho, o açude e os casebres dos moradores, formando a central administrativa da atividade corriqueira do meio: a agropecuária. Entretanto, a referida capela, construção muito mais rara a época, nos sítios daquela zona, assim como a presença do negro, bem mais acentuada que nas demais propriedades, emprestavam ao Tatu um aspecto especial, configurando um latifúndio.
Em geral, nas conversações sobre Dona Fideralina, se lhe faz referência ao gosto ou costume de ter sempre muitos negros no Tatu. Esta particularidade da sua vida está comprovada, através só folclore poético da região. Velhas quadras populares, como estas:

O Tatu pra criar negro,
Sobradim pra criação,
São Francisco pra fuxico,
Calabaço pra algodão,
Caraíba é prata fina,
Suçuarana, ouro em pó,
Xiquexique, mala veia
E o Tatu é negro só.

Cercado de negros e cabras as suas ordens, numa propriedade de ares latifundiários, detendo o poder supremo no seu município e influindo na política do Ceará, Dona Fideralina, descendente e ascendente de líderes políticos de reconhecido prestígio, transformou-se em símbolo do mandonismo sertanejo, numa das figuras de prol da história do coronelismo nordestino. Essencialmente vocacionada para o mister político, dotada de superior capacidade de liderança e dominação, forte, autoritária e brava, não seria de estranhar que sua influência extrapolasse, como de fato extrapolou, as fronteiras do seu reduto e se fizesse exercer sobre a região e o Estado.
Essa abrangente ascendência de mandona de Lavras da Mangabeira não poderia deixar de ser evidenciada, como seus negros e cabras, pela inspiração dos bandos sertanejos, intérpretes fiéis do pensamento do povo, como no caso desta sextilha, atribuída ao repentista Zé Pinto – José Pinto de Sá Barreto:

O Belém manda no Crato,
Padre Ciço no Juazeiro,
em Missão Velha Antônio Rosa,
Barbalha é Neco Ribeiro,
Das Lavras Fideralina
Quer mandar no mundo inteiro.

2 comentários:

  1. Um criminoso de Varzea-Alegre se escondeu na Fazenda do Coronel Raimundo Augusto, descendente de Dona Fideralina.

    A Juiza local soube e intimou o Coronel a entregar o criminoso.

    Raimundo Augusto trouxe o rapaz e, ao entregá-lo disse para a Juiza: Meretrissima, aí está o rapaz, na minha guarda nada haveria de acontecer a ele, agora o Senhora tem a responsabilidade pela vida dele. Se acontecer algo com ele vai se entender comigo.

    A Juiza pensou um pouco e respondeu: Acho melhor o senhor levar o rapaz de volta.

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  2. Meu bom amigo Morais, grande abraço

    Manoel Severo

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