Faço verso do sertão
Porque foi lá que eu nasci,
Criei-me no pé da serra
Comendo arroz com pequi.
Hoje eu estou afastado,
Mas vivo sempre lembrado
Do tempo que lá vivi.
Rimo as bênçãos que pedi
Ao padre da freguesia,
Rimo o tirador de figo
Que a meninada temia.
Também rimo o capitão,
De farinha com feijão
Que a minha avó fazia.
Rimo o pote e a rodilha
A cangalha e a esteira,
A batida da cancela,
E os buracos da porteira.
Rimo o sertanejo rude,
E a falta de saúde
Das crianças da ribeira.
Eu rimo a mulher rendeira
Com bilros e almofada,
Rimo a velha cachinbeira
Que aparava a meninada.
Rimo o velho cochilando,
Que passa o tempo pensando
Mas não se lembra de nada.
Rimo o prato de coalhada
Misturada com farinha,
Rimo a casca de romã
Que servia de meisinha.
Rimo o tempo de missão,
Que o santo Frei Damião
Na minha cidade vinha.
Rimo a porta da cozinha
De uma casa do sertão.
Rimo também pechiringa
Na parede de um oitão.
Eu rimo também a luta,
De uma cabocla matuta
Pilando arroz no pilão.
Rimo um prato de feijão
Somente com água e sal,
Rimo o bode no terreiro
E a vaca no curral.
Rimo o menino brincando,
Satisfeito cavalgando
No seu cavalo de pau.
Rimo dispensa e girau
Que é almoxarifado,
Rimo pamonha e canjica
Macaxeira e milho assado.
Rimo também um gato,
Correndo atrás de um gato
Espatifando o telhado.
Eu rimo o sertão molhado
E o verde da plantação,
A volta do sertanejo
Que fugiu da sequidão.
Também rimo o sanfoneiro,
Junto com um zabumbeiro
Executando um baião.
Rimo o dia da eleição
Que o matuto faz folia,
Ele espera quatro anos
Por esse bendito dia.
Enche o bucho de feijão,
Depois vai para a seção
Com a cabeça vazia.
Também rimo pescaria
De landuá e anzol,
Rimo corrida de jegue
E jogo de futebol.
Rimo fojo e arapuca,
A zuada da mutuca
E o legume do paiol.
Eu rimo o calor do sol
E a sombra do juazeiro,
Rimo o cigarro de palha
Aceso num tabaqueiro.
Rimo o cacho de banana
E os roletes de cana
Da festa do padroeiro.
Rimo a copa do coqueiro
E o tronco das aroeiras,
O descascador de varas
E o tirador de goteiras.
Também rimo o sacristão,
Cavador de cacimbão
E curador de bicheira.
Rimo também a fogueira
Da noite de São João,
Rimo a luz do vagalume
Piscando na escuridão.
Se tanta gente rimou
E alguma coisa ficou
Também rimei o sertão.
Prezado Mundim.
ResponderExcluirVocê rima tudo, mas quando trata do sertão você rima melhor.
Parabens.
Parabéns poeta! Em matéria de rima você é mestre!
ResponderExcluirentsionaEita Mundim! Você agora rimou tudo.
ResponderExcluirEu conheço tudo isso.
parabéns poeta.
Meu Poeta Rimador: pense num homem que que Deus usa, pra fazer seus coterraneos se encherem de orgulho com tudo de bom que ele faz;esse homem Mundim, é Tu.
ResponderExcluirAbraço cheio de amo fraterno. Fatima.