Enquanto o papa humilde falava das coisas do espírito no seu discurso de chegada, com a simplicidade do poverello di Assisi que inspirou a escolha de seu nome, a presidente Dilma discorria longamente sobre os rios de leite e mel que começaram a escorrer pelo Brasil durante os 10 anos de governo de seu partido.
Como lhe cabia, o papa foi generoso e gentil: "Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta".
Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: A paz de Cristo esteja com vocês!"
O portal do imenso coração do povo brasileiro não tinha uma entrada adequadamente preparada pelo protocolo da presidência da República nem encontrou equivalência na sensibilidade presidencial.
A fala da presidente foi espinhosamente desconfortável para recepcionar uma autoridade religiosa do vulto do chefe da Igreja Católica, que muito provavelmente não estava preparado para ouvir uma arenga pré-eleitoral que deve ter soado aos seus ouvidos como uma indelicadeza e uma impropriedade sem precedentes em eventos dessa natureza.
O máximo de informal simpatia que o papa Francisco usou foi dizer que Jesus Cristo "bota fé" nos jovens e que "a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo e, por isso, nos impõe grandes desafios".
O discurso foi curto, breve e adequado, como convém a um visitante ilustrado como o cardeal Bergoglio. O discurso da presidente Dilma fez referências genericamente adequadas à luta contra a desigualdade, que é uma retórica comum à Igreja Católica e à atual geração de governos de esquerda da América Latina, mas começou a aprofundar-se na falta de grandeza quando se meteu a entrar em detalhes controversos da “nossa política de desenvolvimento” e “na aceleração e aprofundamento das mudanças que iniciamos há dez anos”.
Mais uma vez, como se estivesse em horário gratuito eleitoral na TV, às vésperas de um embate eleitoral, fez questão de cancelar a existência dos anos que antecederam o governo de seu partido, como se a história contemporânea do país tivesse começado com seu antecessor e continuado com ela.
Não foi certamente um discurso "urbi et orbi", ao contrário da fala de Francisco, que pediu que "desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa".
Dilma, com toda sua falta de tato, claramente excluiu de seus afetos quem não apoia seu governo.
A presidente não é católica, não é evangélica, disse que para se ganhar uma eleição se faz o diabo. Como se vê é capaz de tudo pelo puder. Tirou o brilho da Jornada Mundial da Juventude.
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