Mesmo quem não entende nada de política é capaz de enxergar uma politicagem. É o que indica pesquisa Datafolha divulgada neste sábado. Nada menos que 73% dos entrevistados disseram que Dilma agiu mal ao converter Lula em ministro. Para 68% das pessoas ouvidas, Lula só aceitou o cargo para fugir dos rigores da caneta do juiz Sérgio Moro, escondendo-se atrás do foro privilegiado de ministro.
Tomados pelos números do instituto, Dilma e Lula protagonizaram um clássico abraço de afogados. A taxa de reprovação de Dilma bateu em 69%, roçando os 71% anotados em agosto de 2015, o mais alto já captado pelo Datafolha em 27 anos. O índice de rejeição de Lula atingiu 57%, um recorde —a pior marca havia sido registrada em setembro de 1994, quando 40% do eleitorado dizia que jamais votaria no morubixaba do PT.
Ao associar sua presidência às investigações que rondam Lula, Dilma deu as costas para o asfalto. No domingo passado, as ruas roncaram pelo impeachment, pela prisão de Lula e pela canonização do juiz da Lava Jato. Em resposta, Dilma trancou-se em seus rancores, trouxe o investigado para dentro do Planalto e declarou guerra ao magistrado da “República de Curitiba”. Quer dizer: comprou briga com o meio-fio.
O Datafolha inventariou os prejuízos: desde fevereiro, o apoio ao impeachment de Dilma cresceu oito pontos percentuais —foi de 60% para 68%. Subiu sete pontos, de 58% para 65%, a quantidade de brasileiros favoráveis à renúncia de Dilma.
Suspensa pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, a nomeação de Lula para a chefia da Casa Civil ainda depende de um julgamento que ocorrerá no plenário da Suprema Corte. A essa altura, porém, o veredicto pouco importa. Dilma já associou sua combalida imagem às suspeitas que rondam Lula. No imaginário da plateia, restou a convicção de que, em política, nada se perde e nada se transforma. Tudo se corrompe.
Dilma não podia ser ingrata com o Lula. Mas, tudo no mundo tem limites, para a gratidão também. Que se afoguem todos juntos.
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