Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Brasil na encruzilhada da história: Família Imperial Brasileira quer usar divisão do país para restaurar a monarquia

        Dom Bertrand de Orléans e Bragança na avenida Paulista no dia da votação do impeachment   
Fonte: jornal "Folha de S.Paulo" -- Rodrigo Vizeu (Editor-Assistente da seção "Poder")
     Vai achando que é só plebeu que protesta em Copacabana e na Paulista.... Entre a fauna que ganha visibilidade nas manifestações contra Dilma Rousseff, talvez já tenham chamado a atenção do leitor esporádicas bandeiras do Brasil imperial –na qual o globo azul é substituído por brasão e coroa. Portando os estandartes estão os monarquistas brasileiros, que querem aproveitar o clima de uma pátria desunida para propor uma solução que olha para trás: por que não aproveitar para restabelecer o regime deposto por republicanos há 127 anos?

    O monarquismo brasileiro tem à frente os descendentes de dom Pedro 2º, imperador morto no exílio. Sua voz mais ativa hoje é dom Bertrand de Orléans e Bragança, 75, trineto de dom Pedro e segundo na hipotética linha sucessória do trono nacional. Chamado de alteza por assessores, Bertrand toca o movimento devido à saúde debilitada do irmão mais velho, Luiz, 77.  O príncipe nasceu na França –da qual guarda discreto sotaque– e já estreou nos atos de rua, sendo parado para selfies por súditos em potencial. Embora propague o caráter suprapartidário que deve ter o monarca de um renascido império, Bertrand concentra suas críticas no PT, que vê como artífice de um plano para impor o socialismo ao país.

    "Nossa bandeira é verde e amarela e jamais será vermelha", repete incessantemente o príncipe em discursos e pronunciamentos pela internet. Do alto de um carro de som, repudiou "os que têm como intenção implantar na nossa pátria o que fracassou do outro lado da cortina de ferro". Em conversa com a Folha em janeiro, o possível chefe do Poder Moderador disse apoiar os atos de rua, mas distingue "movimentos agitadores pagos, como MST" do "Brasil autêntico, que trabalha e dá certo".
SOLUÇÃO REAL
    É na insatisfação atual que o príncipe vê margem para atrair adeptos à ideia de recolocar os Orléans e Bragança na chefia do Estado. Ele diz que há cada vez mais interessados na causa, promovida on-line e nos protestos, com panfletos que destacam as virtudes da restauração. 

    Ele compara a tensão de eleições presidenciais a uma briga em família, na qual os filhos –no paralelo, os cidadãos– "perdem aquele respeito que têm em relação aos pais" (os políticos). "Ao passo que a monarquia garante unidade, estabilidade e continuidade", explica. "O Brasil está com saudade de um regime que faça à nação o que uma nação deve ser: uma grande família com destino comum a realizar." "Quando brasileiros bradam 'Quero meu Brasil de volta', bradam 'Eu quero o Brasil do Cristo Redentor e de Nossa Senhora Aparecida'", resume.A retórica religiosa –presente, diga-se, desde os imperadores e a princesa Isabel– perpassa o discurso da família, que ainda hoje prepara seus descendentes para reocupar o trono.
          
 QUE REI SOU EU?
Na prática, Bertrand propõe um regime "na linha do Segundo Reinado, mas atualizado de acordo com as circunstâncias". A tese de que deve ser um descendente dos imperadores do século 19 a portar a coroa rediviva não é consenso nem entre eles.
Dom João Henrique de Orléans e Bragança, 61, de outro ramo da família, diz que ninguém pode impor isso ao país. Ele, que tem uma pousada em Paraty e é habitué dos protestos da orla carioca, diz ser, mais do que monarquista, parlamentarista. Mas argumenta que o sistema funcionaria melhor com um rei, mais neutro como chefe de Estado do que um presidente.

Apesar de não fazer questão que um dos seus reine, João ressalta: "As famílias reais são educadas desde pequenas com princípios que dizem respeito ao Brasil, às instituições, à democracia, e isso tem um peso público enorme. Ninguém de nós teve funções político-partidárias".  Agora, dá mesmo para sonhar com um retorno do rei –já rejeitado em plebiscito em 1993, quando a monarquia só teve 10% dos votos? 

Mais uma vez, Bertrand busca inspiração no passado. Conta que no fim da União Soviética eram comuns cartazes dos czares e a bandeira imperial entre a multidão. O regime não foi substituído pela volta dos Romanov, mas o príncipe ainda gosta do paralelo. "Os brasileiros começam a se perguntar: 'Valeu a pena a República?".
             
Dom João de Orléans e Braganca nos protestos contra o governo do dia 16 de agosto   

3 comentários:

  1. Prezado Armando Rafael - Hoje eu sou um defensor da Monarquia. Porém, acho que, no Brasil, ainda não seria bem sucedida. Os súditos são de péssima qualidade. O Povo capaz de destruir uma republica faria o mesmo com qualquer outro regime.

    ResponderExcluir
  2. Como bem afirmou Dom Bertrand de Orleans e Bragança em entrevista ao jornal “Estado de S.Paulo”: “A história é pendular. A época das utopias se foi, próximo passo é retornarmos aos tempos do Imperador, que é uma figura suprapartidária e educada para servir a nação, não se servir da nação”

    ResponderExcluir
  3. Não me canso de repetir que uma família real sai muito mais em conta para o país do que um presidente "operário"...

    ResponderExcluir