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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Lula, um leão rouco, sem dentes nem garras – por José Nêumanne (*)

(Publicado no Estadão, edição de 05-10-2016)
A maior vítima da violência do PT será o cidadão, que não terá como melhorar de vida
O profeta Lula estava particularmente inspirado quando foi votar para prefeito em São Bernardo do Campo, onde mora. “O PT vai surpreender nesta eleição”, previu com precisão instantânea. Pois seu partido surpreendeu mesmo, ao cair de terceiro em número de prefeituras em 2012 para décimo lugar neste pleito. “Quanto mais ódio se estimula, mais amor se cria a favor”, disse, em forma de oração. “Só há um jeito de eles tentarem me parar: evitar que eu ande pelo Brasil”, ameaçou o santo guerreiro contra o dragão da maldade da burguesia infame. O loroteiro está de volta, olê, olê, olá! 

Não tardou para as urnas o estarrecerem. Nem precisou sair de casa: Orlando Morando (PSDB) e Alex Manente (PPS) disputam o segundo turno em São Bernardo. O companheiro Tarcísio Secoli, favorito do prefeito Luiz Marinho, seu sucessor no Sindicato dos Metalúrgicos, do qual Lula ascendeu para a glória política, ficou em terceiro, com menos de um quarto dos votos válidos: 22,6%. Em termos proporcionais, superou o poste que ele elegeu em São Paulo em 2012: Fernando Haddad protagonizou o maior vexame da história do partido ao ser massacrado pelo tucano João Doria, que o derrotou no primeiro turno por 53,3% a 16,7%. Em gíria de turfe, Haddad nem pagou placê.

E no dia em que constatou que as eleições “consolidam a democracia no Brasil”, Lula deu uma desculpa esfarrapada para o fiasco histórico: “A imprensa está em guerra com o PT há sete anos”. Para ele, “as pessoas se enganam quando (pensam que) uma TV, um jornal, pode tudo. Não pode. O povo é que pode tudo”. No caso, não lhe falta razão: numa democracia, como reza a Constituição da República, todo o poder emana do povo e para ele é exercido. As urnas não falam, mas o povo fala nelas. E a lorota de Lula tornou-se senha para a violência: mais tarde, constatada a derrota de Haddad, militantes petistas impediram que a repórter Andréia Sadi, da GloboNews, concluísse um boletim ao vivo na sede do PT, no centro de São Paulo.

Um tsunami de votos soterrou o partido que se diz da classe operária, mas passou 13 anos, 4 meses e 12 dias usando o poder federal para atuar como despachante de empreiteiros e amigos empresários emergentes que, em troca de contratos superfaturados, engordaram os cofres dos petistas e do PT em proporções nunca ousadas antes. Até recentemente, ingênuos, como o autor destas linhas, imaginavam que havia apenas uma corrente de escândalos de corrupção – Santo André, mensalão, petrolão, etc. –, conectados e consequentes um do outro. Agora é possível perceber que não é só isso. Trata-se, sim, de um assalto planejado, organizado e realizado para esvaziar todos os cofres públicos ao alcance de suas mãos.

A 53.ª (Arquivo X) e a 54.ª (Ormetà) fases da Operação Lava Jato trouxeram à tona revelações impressionantes sobre a gestão dos desgovernos Lula e Dilma. Nunca antes na História deste país um chefe da Casa Civil respondera por violações do Código Penal. José Dirceu, “capitão” do time de Lula em seu primeiro governo, está preso em Curitiba, acusado de haver delinquido quando cumpria pena na Papuda, em Brasília, condenado por corrupção e outros crimes pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no caso mensalão. Antônio Palocci Filho, primeira eminência parda de Dilma, após ter sobrevivido a 19 processos criminais no mesmo STF e ter violado o sigilo bancário de um pobre trabalhador, o caseiro Francenildo dos Santos Costa, foi recolhido ao xadrez, acusado de ter pago dívidas de campanha da chefe com dinheiro sujo.

Gleisi Hoffmann, ex-chefa da Casa Civil e senadora (PT-PR), é acusada de ter recebido R$ 1 milhão de propina da Petrobrás para comprar votos. Acusação igual é feita ao marido dela, Paulo Bernardo, suspeito de haver furtado R$ 7 milhões em prestações mensais de funcionários do Ministério do Planejamento que requeriam empréstimos consignados.

Guido Mantega, preso e solto pelo juiz Sergio Moro, foi outro ex-ministro do Planejamento a protagonizar processo criminal, em que foi delatado por Eike Batista, “bom burguês” escalado por Lula entre “campeões mundiais” do socialismo de compadrio, de havê-lo achacado no gabinete do Ministério da Fazenda. Palocci também foi ministro da Fazenda de Lula, que se diz o mais “honesto dos seres humanos”. Enquanto Dilma se põe acima de suspeitas por não ter contas bancárias no exterior.

No palanque, a esquerda insistiu que Dilma foi usurpada por Michel Temer, o vice duas vezes eleito com ela, no impeachment, cujo rito legal foi cumprido à exaustão. Em São Paulo, Luiza Erundina, do PSOL, e, no Rio, Jandira Feghali, do PCdoB, pediram votos repetindo essa patranha de consolar devoto. A ex-prefeita teve 3,2% dos votos e a carioca, 3,3%.

Fernando Haddad, contrariando o comportamento belicoso de seus apoiadores, cumprimentou João Doria pela vitória. No entanto, a agressão à repórter de televisão não foi, como devia ter sido, evitada por seu candidato a vice, Gabriel Chalita, nem por seu antigo colega de Ministério de Lula, Alexandre Padilha, que, conforme depoimento do colunista do Globo Jorge Bastos Moreno, se mantiveram impassíveis diante do lamentável fato. Assim, deram o sinal de que a oposição do PT e aliados de esquerda não se limitará à irresponsável tentativa de impedir que sejam feitos os ajustes sem os quais o Brasil não conseguirá recuperar-se da crise provocada pela longa duração do próprio reinado na República.

O governo de Temer, também cúmplice no desmantelamento do Estado brasileiro nas gestões petistas, sofrerá boicote impiedoso. Mas a maior vítima será, como sempre, o cidadão, que amarga desemprego, inflação e quebradeira. E se verá às voltas com vândalos nas ruas queimando carros e quebrando vidraças. O PT não é cachorro morto e seu chefão, Lula, ainda será o leão rouco que ruge mesmo tendo perdido dentes e garras.
(*) José Nêumanne . Jornalista, poeta e escritor


Opinião dos Leitores

José Augusto escreveu
Precisa plebiscito? Ou bastam os resultados das eleições de domingo? Em São Paulo, João Doria, candidato de Geraldo Alckmin, teve mais de 53% dos votos e ganhou, no primeiro turno, em 56 das 58 zonas eleitorais da capital. Precisa plebiscito? No Rio de Janeiro, Jandira Feghali, com o ostensivo apoio da presença dos ex-presidentes Lula e Dilma em seus comícios, teve apenas 3,34% dos votos. Precisa plebiscito? Ainda no Rio, Crivella foi para o segundo turno com cerca de 28% dos votos. Além desses, há os votos do chamado “centro-direita”, dividido entre quatro candidatos, cada um com mais de 10%, totalizando cerca de 47% dos votos. Somando, chega-se a 75%. Precisa de plebiscito? E em Salvador ACM Neto cravou 73,99% dos votos... Precisa plebiscito?! 

Meu e-mail – joseaugustomdlc@gmail.com 

Carlos E. Barros  escreveu
Uma rejeição ao PT nas eleições municipais já era esperada. Mas, felizmente, os eleitores acordaram e deram a Lula e seu partido um verdadeiro banho. Além da inédita eleição em São Paulo no primeiro turno, o PT perdeu em todo o Brasil quase 2/3 de seus prefeitos. O Brasil começou a varrer neste País a hipocrisia, a roubalheira, a má administração, a arrogância e todo o lixo deste malfadado partido.
e-mail:
ceb.rodrigues@hotmail.com


 

3 comentários:

  1. Os argumentos (?) apresentados por Lula sempre foram feitos a nível de comparação com o futebol (Por exemplo: sobre a riqueza do filho: “Lulinha é o “Ronaldinho fenômeno” da família”. Isso é o limite do alcance de Lula em raciocínio.

    Então, plagiando Lula, comparemos as eleições de domingo com o futebol: o Partido dos Trabalhadores–PT, ao fim destas eleições, foi rebaixado para a segunda divisão. Sem tirar nem por. “Nunca antes na história desse(?) País” a ficha caiu com tanta precisão...

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  2. Prezado Armando - O problema é a doença dos petistas. Dizem, no Crato Lula elegeu Zé Aílton, em Juazeiro o Arnon se elegeu porque votou a favor de Dilma. Embora Lula tenha chorado por Gilmar Bender. Tem jeito para essa corja?

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  3. É, Morais. Não sei o que os lulo-petistas têm na cabeça...
    Mick Jagger, o mais famosos Pé Frio do mundo, é conhecido por seu incrível histórico de azar envolvendo o futebol.

    Mutatis mutandis, Luiz Inácio Lula da Silva é o Mick Jagger da política brasileira. Trouxeram Lula para fazer comício para Fernando Santana( em Barbalha), Gilmar Bender (em Juazeiro do Norte) e Zé Ailton (em Crato). Tirante o Crato, Lula Pé Frio perdeu nas duas primeiras.

    Como perdeu em Fortaleza quando fez comício para Luiziane Lins. Como perdeu no Rio de Janeiro (onde fez comício para Jandira Feghalli), como perdeu em São Paulo onde se desdobrou por Fernando Haddad...E por aí vaí!

    Crato, como sempre, é uma exceção.

    Mas vou citar um único exemplo: O candidato a prefeito de Mossoró, Silveira Júnior, foi recebido em audiência pelo ex-presidente Lula de quem recebeu promessa de apoio na sua campanha na tentativa de conquistar o poder executivo municipal. Tudo bem?Não!!! Tudo de ruim.
    Lula é pé frio pelo menos em Mossoró. Nunca no município um candidato em que ele subiu no palanque venceu as eleições. Neste ano quem ganhou foi a ex-governadora Rosalba Ciarlini que foi considerada a pior governadora do Rio Grande do Norte. Mas como Lula apoiou o adversário dela. Rosalba ganhou de goleada...

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