Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O relógio da torre da Catedral de Crato – por Armando Lopes Rafael

   Na torre do lado Sul da Catedral existe um relógio (*) hoje integrante da memória e do patrimônio histórico de Crato. A iniciativa da compra desse relógio coube ao, então, vigário colado da Freguesia de Crato, padre Manuel Joaquim Aires do Nascimento, que o adquiriu na fábrica Ungerer & Frères, localizada em Estrasburgo (França). O equipamento foi assentado na Igreja-Matriz de Nossa Senhora da Penha no dia 21 de janeiro de 1863, pelo artesão Vicente Ferreira da Silva. O relógio foi oficialmente entregue à população de Crato, no dia 12 de outubro daquele ano, por ocasião da primeira visita pastoral feita ao Cariri pelo primeiro bispo do Ceará, Dom Antônio Luís dos Santos. Consoante informação do historiador Irineu Pinheiro, o relógio da Matriz de Crato foi considerado, “naqueles tempos, um dos melhores do Império”.
Decorridos mais de 150 anos da sua instalação, o velho relógio da Sé de Crato ainda marca as horas com exatidão.

(*) Em 2003, o ex-Cura da Catedral, monsenhor João Bosco Cartaxo Esmeraldo, atual Reitor do Santuário Eucarístico Diocesano, escreveu à fábrica de relógios Ungerer solicitando informações sobre o equipamento adquirido para a Paróquia de Nossa Senhora da Penha, no terceiro quartel do século XIX.

Transcrevemos abaixo a correspondência recebida – e traduzida – por monsenhor João Bosco Cartaxo Esmeraldo:

“Estrasburgo, 6-11-2003

A Mons. João Bosco Cartaxo Esmeraldo
Vigário Geral da Diocese de Crato-CE

Monsenhor,

Querei perdoar o atraso desta resposta à vossa simpática mensagem de 21 de janeiro de 2003 e vossa carta, de 7 de maio, ao Vigário Geral de Estrasburgo, que me chegaram, há algumas semanas, somente após três meses de ausência.
Eu sou filho caçula de Thédore Ungerer (1894-1935) construtor do relógio astronômico de Messina (Sicília) (1933), o maior do mundo, com 50 autômatos, dos quais 48 desenhados por meu pai.
Para responder à vossa questão se há ainda a fábrica em Estrasburgo, eu anexo a esta carta um texto do Sr. Yann Cablot, dos Arquivos Departamentais do Baixo Reno.
Eu concluo que a firma Ungerer, fundada em junho de 1858, cessou definitivamente sua atividade, em janeiro de 1989.
Eu encontrei talvez traços de vosso relógio, no repertório dos Grandes Livros Ungerer, nos Arquivos Departamentais (73J45 pag.91, anexo) onde se encontra um pagamento de 1.130 Fr, em 27 de abril de 1860, “para o Brasil” (talvez uma conta (parcela?).
Em nome dos meus ancestrais, eu vos agradeço, Monsenhor, por vossa mensagem cordial e por vossas bênçãos e vos dirijo minhas saudações respeitosas e cordiais.
B.Ungerer

Teríeis a gentileza de me enviar uma foto da torre da Catedral, com o relógio Ungerer, para os Arquivos Departamentais? Obrigado antecipado”.
***   ***   ***

Verificando o anexo que acompanhou a carta do Sr. Bernard Ungerer ao monsenhor João Bosco Cartaxo Esmeraldo, lemos uma relação manuscrita referente a 1860, onde constam as encomendas feitas à fábrica Ungerer & Frères, naquele ano. Na relação, uma anotação registra: “avril, 27 Caisse 1 – pour Le Brésil –37– 1.130 Fr (abreviatura da moeda francesa, o Franco)”

Donde se conclui que o atual relógio, ainda batendo as horas na Sé de Crato, foi adquirido por Dr. Marcos Antônio Macedo, em Estrasburgo, no dia 27 de abril de 1860, fato comprovado pelo cineasta Jackson Bantim, que fotografou a máquina do equipamento, e lá consta o ano da fabricação: 1860. Este relógio – segundo pesquisa de Irineu Pinheiro – foi instalado na torre do lado Sul da Catedral de Nossa Senhora da Penha, no dia 21 de janeiro de 1863, pelo artesão Vicente Ferreira da Silva.

3 comentários:

  1. Postagem de valor memorável. Pena que a população não tenha o devido interesse pelo conhecimento dos fatos históricos.

    ResponderExcluir
  2. O badalar das horas desse relógio, antes ecoante e reverberante pelo centro, pelos bairros e até por alguns sítios da tradicional cidade de Crato, anunciava nossos momentos do despertar, do trabalhar, do descansar e do sonhar.
    Hoje, classicamente e relutante, continua fazendo o mesmo, mas, um tanto abafado pelos poluentes sons das buzinas do tráfego, pelos sons dos paredões e pelos eletrizantes ecos saídos dos bares e boates noturnas.
    Porém, não importa todas essas intrusas e “modernas” agressões, pois ele, quer queiram, quer não queiram, continuará, em sons acalantos anunciando, com seu sonoro e clássico badalar, o despertar e o adormecer das filhas e dos filhos desse meu Crato gentil! Ouvido e louvado seja… Para sempre seja ouvido e louvado!

    ResponderExcluir