Padre Lourenço Vicente Enrile - foto tirada do "Album do Seminário do Crato", editado em 1925
O
dia era 13 de novembro de 1876. Na Vila Real do Crato – na Rua das
Flores, em casa do farmacêutico prático Secundo Chaves, localizada
próximo a onde hoje funciona a Cúria Diocesana, na Rua Teófilo Siqueira –
um sacerdote de 43 anos, com o organismo minado pela tuberculose,
sentia que sua existência terrena chegava ao fim. Em meio à febre,
acessos constantes de tosse e hemoptise, o Padre Lourenço Vicente Enrile
– primeiro reitor do Seminário São José – rendeu sua bela alma a Deus,
nos braços do farmacêutico e seu benfeitor.
Dias antes, Secundo Chaves, após muita insistência, conseguiu que o
Padre Lourenço Enrile deixasse o prédio do Seminário e viesse para sua
residência, onde teria mais conforto no tratamento da pertinaz moléstia.
Debalde foram os esforços do farmacêutico. O Crato perdeu, naquele dia,
um dos mais virtuosos sacerdotes que já passaram por esta cidade.
Padre Enrile nasceu em Finalborgo, diocese de Savóia, na Itália em 28
de fevereiro de 1833. Cento e trinta e cinco anos depois da chegada do
Frei Carlos Maria de Ferrara – fundador de Crato – a Itália nos mandara
outro valoroso missionário. Padre Enrile chegou ao Cariri em 1875, para
colocar em funcionamento o Seminário São José. Aqui viveu menos de dois
anos, tempo suficiente para alcançar – junto à sociedade cratense – o
conceito de um sacerdote digno, piedoso e exemplar.
Segundo o “Álbum do Seminário de Crato”, editado em 1925:
“Não se limitava a ação do primeiro reitor em guiar os destinos da
casa, da posição em que o colocara o Sr. Bispo, mas entregava-se a todos
os misteres. Desde a sala de aulas até a cozinha, sua atividade se
desenvolvia a contento de todos os que habitavam o Seminário.
“Trabalhava sem tréguas, durante o dia, e, à noite quando todos
dormiam, ainda vigiando, percorria o dormitório e mais compartimentos da
casa, não deixando de consagrar algum tempo ao estudo.
“Os primeiros albores da madrugada, como determinavam as regras da Congregação, já o encontravam no cumprimento do dever.
“Padre Enrile era um modelo de sacerdote católico, que reunia aos
vastos conhecimentos de que era possuidor uma piedade sólida, haurida em
Paris na Casa Mãe dos Lazaristas. Manejava a língua portuguesa com rara
facilidade, de modo que prendia a atenção de todos quando proferia seus
memoráveis sermões. À capela do Seminário, em meio de grande massa
popular, afluía, ainda, o que o Crato tinha de intelectual naquele
tempo, para ouvir a palavra fácil e erudita do Padre Enrile.
“Em todos os misteres do sacerdócio, era o Padre Enrile exato e
admirável. Edificava o povo, quando após os trabalhos do Seminário, saía
em busca dos moribundos levando-lhes o pão dos anjos e o conforto de
sua palavra cheia de unção.
É ainda o “Álbum do Seminário de Crato” que informa:
“Quando do seu falecimento, a população em peso acorreu ao Seminário e
de todos os olhos caiam lágrimas a fio, e todos os lábios ciciavam
preces pelo repouso da alma do prateado morto”.
Os veneráveis restos mortais do Padre Enrile encontram-se sepultados
numa das colunas da capela do Seminário São José. Conforme o “Álbum do
Seminário de Crato”: “Jamais se assistira (até aquela data) em Crato a
enterro tão concorrido e a morte tão chorada”...
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael
Um fato histórico importante.
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