CARTA PARA MARIA EDUARDA - Antônio Gonçalo de Sousa.

Quando cheguei na maternidade e coloquei a mão no berço, afastando a cortina que o envolvia, vi aquela criança pequenina fisicamente, mas grande no meu pensamento meio desnorteado, por reconhecer que ali estava a lição número três da minha responsabilidade hereditária aqui na terra. Naquela hora eu comecei a aprender o que é ser avô. Pelas lições número um e dois eu havia passado quando dos nascimentos de minhas duas filhas.

Há quem diga que ter filhos é labutar com fases. Quando se domina uma delas, vem a seguinte e muda tudo. Fica a impressão de que as ocasiões são feitas prá ensinar a gente a não entender mesmo de nada. Mas faz parte da subjetividade da vida.

Ser seu avô, Maria Eduarda, foi a chance que tive de ir acreditando na intuição da lição número três. E estamos vivendo bem até o momento. Você com dez anos e nós aprendendo que quem decide tudo é um ser superior, que nos conduz e vai dizendo o rumo a seguir.

Ao longo da sua pequena existência, estamos tentando passar-lhe a lição número quatro: nunca esconda dos seus filhos e netos de que você não é perfeito, que fica triste, que chora, fica cansado etc., e que essas coisas passam e a gente deve levantar a cabeça e lutar.

Tentaremos ser sempre assim, sem enganar ou mentir sobre as coisas da vida. Faremos o possível para te criar sendo uma pessoa forte e honesta contigo e com os outros. Não sou um avô perfeito mas, até agora, os meus defeitos são transparentes, você já conhece alguns e eu também já conheço parte dos seus. Contudo, isso não vai fazer eu deixar de te admirar e amar.

Até aqui, foram dez anos de muitos momentos de alegrias e realizações. É bom reviver e lembrar desde você no barrigão da sua mãe, até nos momentos de descontração, lambuzada de farofa depois do almoço, vestida de bruxa na festa do Halloween, fantasiada de palhaço no carnaval ou, sorrateiramente, pintando o meu rosto com caricaturas ao dormir.

Não sei se sou seu melhor amigo, mas sou seu avô. Assim como a mãe é única na vida de uma pessoa, o avô também é. Portanto, vai uma quinta lição: confiança, amizade e o respeito pelos desejos dos outros é muito importante.

Você tem nos surpreendido com a maneira simples de ser e a dedicação aos estudos. Sinceramente, fico impressionado e grato com as suas notas escolares. Aplaudo-a, ao mesmo tempo reconhecendo que estudar às vezes é chato, mas faz parte de um pacote de coisas que temos que enfrentar. Afinal, a lição número seis nos ensina que educar dói, contudo, é o caminho para possibilitar que tudo dê certo.

No final das contas, a gente vem se divertindo, nosso amor é grande e intenso por você e somos muito felizes sendo seus bisavôs, avôs, pais, tios e primos, o que enseja-nos a proferir a lição número sete, ou seja: é preciso falar de amor diariamente. Esta carta é para desejar mais uma vez que sua rota na vida seja vitoriosa e acompanhada por Deus.