Muita gente está à procura de quem disseminou essa conversa, pra lá de besta, segundo a qual velho não serve pra nada.
Certamente, uma visão equivocada e espalhada ao vento por parte de figuras pequenas, que nunca estão contentes com o mundo.
Já inventaram até um termo para rotular esse “movimento” preconceituoso: velhofobia.
Essa idiota estigmatização é ainda mais assimilada neste momento de pandemia, quando os velhos são escolhidos como “bois de piranha” pela velha da foice.
Quantas vezes se ouviu: “Ah, esse coronavírus só vai pegar os velhos”!
Pela ação devastadora da Covid-19, observa-se uma imprecisão nesse tipo de avaliação, em face das pessoas mais jovens vitimadas, infelizmente, pelo vírus.
Os velhos não deviam ser tratados com indiferença, mesmo porque, eles são valiosos e cuidam de nós.
Aliás, tenho o hábito carinhoso de tratar as pessoas de "véi". "Como vai, véi"?
Sempre apreciei o fato de ter tido amigos mais idosos do que eu, por compreender que as amizades se dão por afinidades e não por idades.
Chega-se ao requinte de perversidade e insanidade, quando se julga que a economia não pode parar para salvar a vida de velhinhos. De onde tiraram essa idéia imbecil?
É bom que se diga: esse preconceito com relação aos velhos não foi trazido pela pandemia. Foi realçado, pois já existia fortemente entre nós.
Se ser velho é uma merda, não ser velho é pior.
Prezado Wilton Bezerra - Quanto a velho. Examinemos o assunto. Velho é substantivo comum, degradante, masculino, singular, nem tão singular assim.
ResponderExcluirE velho é o Coliseu, como velha é a esfinge de Gizé. Na filosofia e moral chinesas, a pessoa idosa é simbolo de veneração e respeito, consideradas suas condições de mais experientes dos segredos da vida e da dignidade de suas cãs e barbas brancas.
Entre nós, todavia, nos tempos atuais, a coisa não é bem assim. O velho tem valor de excrescência ou algo semelhante. Isto em parte, por culpa dele, que não se dar a respeito, portando-se, muitas vezes, cafajesticamente.
Isto me faz lembrar os velhos dos meus tempos de menino. Um punhado de homens austeros, trabalhadores, exemplares pais de família, daqueles que não precisavam, sequer, dar um fio de bigode para juramentar seus compromissos. Sempre os admirei e respeitei, vendo neles figuras distintas, pessoas diferentes, a quem deviam todos devotar o máximo de atenção e cortesia. Hoje é mentira?
Existem velhos com pinte de play-boy e alguns, até são membros da "International Gay Society". Sinal dos tempos.
Os velhinhos da minha meninice, pobres ou ricos, tinham dignidade no vestir, compostura no andar, decência nos seus gestos e atitudes. Uns, na modéstia de suas posses, vestiam caqui Floriano, mescla Tamandaré ou brim Joffre. Outros, mais afortunados, portavam cruazé de alpaca, nos últimos estágios de uma moda que se extinguia. Em alguns era infalível o colete, principalmente, nos dias de feira, que era no Domingo, também dia de missa ou nas festas de agosto e de fim de ano. Alguns usavam bengalas, outros, simples cipós de marmeleiro ou jucá, conforme as "previsões meteorológicas".
A maioria morava mesmo na rua, enquanto muitos outros vinham dos sítios, nos seus ajaezados cavalos, acompanhados, frequentemente, de parentes e moradores.
Os de fora tinham, normalmente uma casa na vila, onde se hospedavam, depois de livrar suas montarias. Assistia a missa, faziam a feira, vendiam e compravam, davam um dedo de prosa, aqui e ali, e, resolvidos seus negócios, voltavam aos seus pagos, felizes como haviam vindo. Esta visita certa ao centro se fazia sentida, quando algo impedia a qualquer deles de assinar o ponto. Os da rua, pela manha, faziam uma incursão ao comercio, onde havia sempre o pretexto de comprar alguma coisa, ou, simplesmente, para estirar as pernas.
Bela a sua reação, Antonio. A sua narrativa é rica de boa memória. Valeu, amigo.
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