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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 19 de outubro de 2021

GERAÇÃO APARTAMENTO - Por Wilton Bezerra, comentarista Generalista.

Nas minhas infância e adolescência, dos 13 aos 15 anos, a rua era dos meninos, pela inexistência dos perigos que rondam nossas vidas nos dramáticos dias de hoje. Longe da vigilância dos pais, acrescente-se.

A “geração apartamento”, dos meus netos, não experimentou a sensação de liberdade que os setentões, como eu, usufruíram.

Em cada esquina e rua, a meninada se enturmava, para praticar coisas boas e ruins, também.

Em um tempo sem muita informação das terras civilizadas, o cinema moldava comportamentos.

Dos filmes de heróis e bandidos, a gurizada criava estereótipos de homens valentes, dispostos a “lutas” por motivos banais.

As “lutas” eram as brigas, os pegas, a troca de sopapos, o “agarra-agarra”, para se definir quem eram os mocinhos da patota.

Lembro-me que os mais dispostos e arrojados eram eleitos como nossos defensores, diante dos mais fortes de outras ruas.

No meu caso, embora com boa dose de atrevimento, não estava entre os favoritos para os duelos, em função do biótipo para lá de raquítico.

Meu pior momento: quando fui derrotado, numa “luta”, por “Catita”, um  vizinho meu, no Crato, muito mais franzino do que eu.

O nosso valente-protetor era o Gérson, filho do Seu Nilo, funcionário dos serviços de Endemias Rurais.

Dono de grande coragem pessoal, um pouco mais velho que os demais, Gérson precisava tirar os óculos para brigar, mas não rejeitava parada, mesmo diante de gente mais forte do que ele.

Andar com ele, fazendo presepadas pela cidade, era uma segurança.

Convém lembrar, do outro lado da história desses tempos risonhos e francos, de muita amizade e felicidade.

Existiam os falsos valentões de esquina, denominados de “farofeiros”, por não passarem de bravateiros e zoadentos, sem nenhuma condição para as “lutas”.

Faziam cara feia, mas quando eram testados acabavam “gelando”, termo usado para designar um cabra frouxo.

Esse comportamento devia ocorrer em função de algum distúrbio, pela dificuldade de aceitação ou para ser respeitado.

Dessa tempo de infância e adolescência, no Crato, temos saudades imorredouras.

Se algumas incompletudes não o fizeram um grande tempo, não conheci tempo mais feliz do que esse.

2 comentários:

  1. Amigo Wilton - É como aquela historia que você conta "andar e não deixar rastro, fazer o serviço e não vê o produto".

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  2. Tive um protetor, que era o meu irmão Duda. Numa época em que ele deixou de estudar, também tive que abandonar a escola, pois os garotos traquinas da vizinhança viviam de importunar quem queria viver em paz.

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