Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

E POR FALAR EM MORTE... - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

Se acalme. Não é conversa de assombração.

Vivemos tentando engabelar a morte. Procuramos negociar com "a mais indesejada das gentes", permanentemente.

Mesmo sabendo que o desfecho não será o desejado, o objetivo é permanecer um "tantinho" a mais entre os viventes.

Tal qual um velho sacerdote, já com a passagem só de ida, aconselhado por um arcebispo: "Deus deseja a sua companhia".

Arquejante, o padre respondeu: "Mas, aqui, na terra, tá tão "bonzim".

Quantas vezes delirei: "Quando a morte chegar, não vai me reconhecer. Vai que eu escapo".

Já falei em crônicas passadas que não preciso de intermediário. Com a morte, já me acertei.

Como Gontardo Callegaris, filósofo: "Só espero estar à altura deste momento”.

Vejam o que ouvi sobre a morte recente de um cronista que faleceu, subitamente, vítima de enfarto: "Uma boa morte. Morreu dormindo".

E tem "morte boa" à  disposição no último lance de nossa vida?

Por uns escritos que li, soube que Ariano Suassuna falava da morte como a Moça Caetana, de tocaia, pronta para dar o bote e levá-lo.

As tragédias de sua família, o assassinato do pai, o levaram a  pensar na Caetana todas as horas do dia, lendo os sinais de sua chegada.

Viveu até quase 90 anos, negociando com a Caetana.

De lampejos da morte, basta.

Não sei porque escrevo sobre assunto pouco palatável. Só sei que escrevo.

2 comentários:

  1. Gostei muito do termo "engabelar" e por falar nisso um caboclo de Várzea-Alegre fez um trato com a morte : "Enricar e a morte vi buscar num dia marcado no futuro". Rico o tempo passou rápido e na véspera da data marcada o camarada mandou o barbeiro raspar a cabeça. Ficou muito diferente, ninguém o conhecia. A morte perguntou a um, a outro e ninguém sabia informar. Então a morte falou decidiu : "Na ausência dele e para não perder a viagem eu vou levar esse da cabeça pelada no seu lugar.

    ResponderExcluir