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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Há 186 anos o Cariri é objeto de interesse por parte de cientistas – por Armando Lopes Rafael (*)


    Desde 1838 a região do Cariri é objeto de interesse e estudo por parte de cientistas. Padre Cícero ainda nem tinha nascido, mas em 1838 George Gardner (médico naturalista, botânico memorialista, intelectual pesquisador, escritor, ensaísta e cientista inglês) – nascido em Glasgow, Escócia – passou cinco meses residindo em Crato e fazendo estudos sobre a flora, fauna, reservas paleontológicas e aspectos sociológicos, no então Império do Brasil, àquela época um país próspero e respeitado no concerto das nações. 

   Gardner, quando regressou à Europa,  escreveu e publicou o livro: “Travels in the Interior of Brazil” (“Viagem ao interior do Brasil). Este livro só seria traduzido, e publicado, no Brasil, em 1942, pela Companhia Editora Nacional. Mas voltemos à visita de George Gardner ao Cariri.

    Após explorar os arredores de Crato (uma curiosidade: àquela época já existia um minúsculo e pobre vilarejo, conhecido por Joaseiro  -- pertencente a Crato -- erguido em torno de uma minúscula e humilde capelinha de Nossa Senhora das Dores, construída pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, para que seu neto, Pe. Pedro Ribeiro, recém ordenado, celebrasse a Santa Missa sem ter que se deslocar a Crato ou Barbalha. Gardner não mencionou nos seus escritos a pequena aldeia do Joaseiro.

    George Gardner incursionou por sítios da Chapada do Araripe, como a Vila da Barra do Jardim (hoje cidade de Jardim). Esta havia sido emancipada de Crato em 3 de janeiro de 1816, através de decreto assinado por Dom João VI, Príncipe Regente do Reino de Portugal, Brasil e Algarves.

Uma pequena amostra dos escritos de George Gardner

    Lemos, no livro acima citado, versão em português, as primeiras impressões que Gardner escreveu sobre sua chegada a Crato, depois de viajado – várias semanas – pelo sertão semiárido do Ceará, no percurso Aracati-Vila Real do Crato. A conferir.

Impossível descrever o deleite que senti, ao entrar neste distrito, comparativamente rico e risonho, depois de marchar mais de trezentas milhas através de uma região que, naquela estação, era pouco melhor que um deserto. A tarde era das mais belas que me lembra de ter visto, com o sol a sumir-se em grande esplendor por trás da Serra do Araripe, longa cadeia de montanhas, a cerca de uma légua para Oeste da Vila, e o frescor da região parece tirar aos seus raios o ardor que pouco antes do poente é tão opressivo ao viajante, nas terras baixas. 

"A beleza da noite, a doçura revigorante da atmosfera, a riqueza da paisagem, tão diferente de quanto, havia pouco, houvera visto, tudo tendia a gerar uma exultação de espírito, que só experimenta o amante da natureza e que, em vão eu desejava fosse duradoura, porque me sentia não só em harmonia comigo mesmo, mas “em paz com tudo em torno”.

(*) Armando Lopes Rafael, historiador.


Um comentário:

  1. Temos que reconhecer essa assertiva antiga. E temos mais ainda que reconhecer o trabalho feito pelos políticos atuais, especialmente os do Crato para acabar com essa hegemonia. Destruindo tudo que a história mostra ter existido a quem interessar possa.

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