Lei é Lei - Por Antonio Morais.

Numa família humilde, honrada e muita honesta de Várzea-Alegre que eu não revelo o nome nem sob tortura tinha uma viúva mãe de uma única filha. 

Menina moça muito prendada, muito educada e criada  sob os  preceitos da moral e respeito. A moça se apaixonou por um soldado do destacamento local e terminou se casando com ele. O Soldado passou a residir na casa da família. Cidade pacata e de pouco movimentada, o delegado local convocava o destacamento composto de um sargento e dois soldados para  fazer uma "corra"  no cabaré, único local  de aglomerações onde se reuniam,  nas bocas de noites, os boémios e fubueiros. Terminado o serviço  o soldado  voltava para o lar onde diariamente ouvia  um belo de um sermão, primeiro da mulher e em seguida da sogra. 

A mulher reclamava da sorte de ser casada com um profissional que  trabalhava no cabaré. Já a mãe  se mal dizia: como é que se cria uma filha com todo cuidado e ela acha de se casar com um vagabundo,  raparigueiro sem futuro.

Um dia o soldado resolveu botar moral e se antecipou as duas dizendo: O governo criou uma lei que, a partir de hoje,  o marido vai ter o direito de dormir um dia com a mulher e outro com a sogra. 

A mulher deu o maior pinote. Essa não,  nem pense, que conversinha é essa? Nesta hora ouviu-se,  do outro quarta da casa,  uma voz soturna, grave e retumbante: Minha filha, lei é lei, tem que ser respeitada, ninguém pode ficar contra a lei.