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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 19 de outubro de 2024

028 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.


Serra Negra - Vista do Sitio Sanharol - Várzea-Alegre.

Que tempos? Que costumes?

Todo matuto tem horror aos que em razão do oficio, são severos na aplicação das leis. Conta-se que um dos muitos fiscais do consumo que vive a percorrer a terra e que, de posse de um mandato de segurança e um ordenado fabuloso, foi esbarrar em Várzea-Alegre. Um conterrâneo não podia transportar um saquinho de arroz num jumento que era taxado de contrabandista e intimado a recolher o imposto.
A derramar o terror pelo sertão, andava também o rei do cangaço, o famigerado Lampião, o qual havia se hospedado em Juazeiro do Norte com honras de capitão da legalidade. Que tempos, que costumes.
O nosso matuto, fazendo uma negociação clandestina, enforcava na alpendrada de sua casa, uma garrafa que, vista de certa distancia, era um chamariz para os compradores da teimosa. Pois bem, atraído a um destes recantos da fraude e da sonegação do imposto, é que foi até ali um senhor desconhecido. Quem era? Pelos modos, o homem era grande, porque se apresentava altivo, arrogante e de sobrolho carregado. Trazia um bonito chapéu, lenço perfumado, e vários anéis nos dedos.
Chega. E como galã de cinema se apeia. E com esses ares de grão-senhor vai logo entrando de bodega adentro. Não diz bom dia. Não dá confiança a ninguém. No interior da casa, porque se deparasse com duas garrafas de qualquer droga, as quais descansavam em cima de um balcão feito com vigor de pau d'arco, indaga com voz de autoridade: O senhor tem aguardente? Tenho Nhor sim, responde com voz soturna o pobre homem.
Ah! Ao falar em corda na casa de enforcado, um estranho frio invade a alma do bodegueiro. Todo o seu ser tremeu como se lhe tremesse a própria terra. E desmaiado, voz difícil, começa a defender-se: Meu amigo, tenha pena dos meus filhinhos, Isso aqui que o Senhor está vendo não é bodega, eu só tenho, acredite, essas duas garrafas e esta cestinha de cigarros, porque a roça que botei na quebrada da Serra Negra a lagarta comeu. Não me multe, Senhor Fiscal.
O interlocutor estranho que já estava de boca aberta em sinal de grande pasmo desata uma bruta gargalhada. Depois, olhando o suplicante sem lhe desfitar os olhos, lhe diz: Quem o Senhor pensa que eu sou? Não rapaz, eu não sou fiscal. Eu sou Lampião.
Lampião!? O homem ri fazendo uma ligeira contração nos músculos faciais. E voltando a vida, faz camaradagem com Lampião com quem conversa animadamente, graceja, bebe e fuma cigarro sem selo.



5 comentários:

  1. Esta serra tem história. Deste local José de Ana do Sanharol, "Ti Bola" observava a chegada das chuvas quando havia inverno. O que falar desta foto. Pra mim a mais bela visão, a lua, a cidade, a torre da igreja, a serra. Tudo um primor.

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  2. Sempre achei o nome da serra lindo, mas sempre achei que lá era um lugar tenebroso e distante, coisa de criança.

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  3. Minha Mãe-avó Julia de Raimundo Gibão, olhava para a Serra negra e cantava a música que foi tocada no seu casamento:quando eu vejo tovejar praculá,só me lembro do meu bem onde mora, logo choro...

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  4. Num ano de inverno tenebroso, uma pedra despencou do cume da serra levando tudo que tivesse pela frente. O rasgo ainda hoje não criou nova vegetação.

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  5. A estória é dramática, pois mostra que a sanha que os mandatários sempre impuseram na cobrança de impostos era e é mais desumana que a fúria do rei do gangaço (Lampião). A foto, retrata, ao fundo, a cidade de V Alegre, no meio, casas da propriedade do Sr. "João do Sapo" e, no início, o baixio onde se encontra a propriedade do meu avô Antonio Gonçalo Araripe, que felizmente ainda nos pertence.

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