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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 19 de agosto de 2025

Primeiro capítulo do livro “Cariri: Raízes e Cenários” – por Armando Lopes Rafael

 “Mesmo que você esteja em uma minoria, a verdade ainda é a verdade”.

(Mahatma Gandhi)

“Cada vez que uma visão histórica equilibrada  se oferece ao homem, acontece uma renovação  de energias indispensáveis a ele que não constitui um ser isolado, mas faz parte de um modo indivisível com todos os seres componentes do mundo, onde tudo é beleza e harmonia”.  

(Pe. Antônio Teodósio Nunes)


A Mãe do Belo Amor

             

                                                                                   

         Conhecida pela terna invocação de A Mãe do Belo Amor, existe – na Catedral de Crato – uma pequenina e belíssima escultura de madeira. Medindo cerca de 40 centímetros de altura, ela é aureolada por fatos pitorescos e lendários.  Simbólica imagem! Não existem documentos acerca da origem desta encantadora imagenzinha. Uma piedosa tradição popular diz, no entanto, que esta estatueta chegou ao Vale do Cariri por volta de 1738. Provavelmente seria a mais antiga devoção mariana popular surgida no lado Norte do sopé da Chapada do Araripe.  

    A Mãe do Belo Amor teria sido conduzida para cá, pelos frades capuchinhos italianos. Estes, designados para converter – à fé católica – os rudes índios Cariús/Cariris, imersos no paganismo, tanto no modo de vida como no conjunto de hábitos, tão comuns a todos os povos originários que habitavam o Brasil. Os frades capuchinhos tinham como líder o jovem Frei Carlos Maria de Ferrara, fundador da Missão do Miranda, origem da atual cidade de Crato. A gesta deste frade foi conservada no imaginário popular e, ainda hoje, ocupa lugar de destaque na tradição católica de Crato e do Cariri.   

     Sabe-se, por registros posteriores, que já por volta de 1740, a Mãe do Belo Amor era venerada numa capelinha de taipa, coberta de palha, construída por Frei Carlos de Ferrara no centro da Missão do Miranda. Em 1745, o Provincial dos Capuchinhos de Recife, Frei Carlos José de Spezia, substituiu – na igreja dos frades franciscanos da capital pernambucana – a histórica imagem que lá era venerada desde 1641. E enviou a imagem substituída – de Nossa Senhora da Penha de França – para a Missão do Miranda. Aqui chegando, esta imagem da Senhora da Penha passou a ocupar o lugar da estatueta da Mãe do Belo Amor, venerada na capelinha construída por Frei Carlos de Ferrara. 

   A imagenzinha da Mãe do Belo Amor continuou, no entanto, a manter – junto aos fiéis de Crato – o mesmo profundo fascínio que possuía desde os primórdios da Missão do Miranda. Seus devotos – de ontem e hoje – sabem que a Virgem Maria está no Céu, em plena comunhão com Deus; vivendo na visão beatífica do Pai Criador. Intercedendo sem cessar pelos filhos que a Ela recorrem. Recebendo os louvores de gratidão e afeto que lhe são feitos por incontáveis cratenses.

      Documentada ficou também, durante algum tempo – numa das paredes da futura igreja-matriz de Crato – uma pedra com inscrição em latim, datada de 1745. Numa das reformas feitas naquela igreja – em ano incerto e não sabido – essa pedra desapareceu. Nela constava o registro oficial da consagração e dedicação do pequeno e humilde templo, que, com o passar do tempo, se transformaria na atual Catedral de Crato. Tal inscrição teria sido feita por Frei Carlos Maria de Ferrara. Nela constava que a capelinha primitiva fora consagrada ao Deus Uno e Trino e, de modo especial, a Nossa Senhora da Penha e a São Fidelis de Sigmaringa, um mártir capuchinho. Este último, seria elevado oficialmente – em 2013 – à condição de “Co-padroeiro de Crato”. 


2 comentários:

  1. Prezado amigo Armando Lopes Rafael. Que a Mãe do Belo Amor abençoe sua mente e suas mãos benfezejas na disseminação do bem e da amizade entre as pessoas. Espero e desejo que o seu novo empreendimento seja sucesso absoluto. Um abraço.

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  2. Amém. Obrigado por suas palavras, Morais.
    Deliberadamente, comecei o livro resgatando a história da imagenzinha da MÃE DO BELO AMOR. Esta faz parte da história de Crato, antes mesmo da fundação desta cidade, pois esta invocação – à Mãe de Deus e Nossa Mãe – foi introduzida a partir de 1738, com o início da MISSÃO DO MIRANDA, fundada pelo frade capuchinho Frei Carlos Maria de Ferrara, para catequizar os índios que viviam ao sopé da Chapada do Araripe... Foi assim a origem de Crato, denominada pelo historiador Pe. Antônio Gomes de Araújo como A CIDADE DE FREI CARLOS.

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