Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A ópera da vida - Por Dr. Jose Bitu Moreno

Capela de Maria de Bil - Foto de Wiltom Bitu Moreno.

Ontem foi o primeiro dia de abril desse ano de 2007. Ficamos em casa, enquanto lá fora brilhou o sol e os pássaros cantaram até altas horas. Dentro de casa também ouvimos música, e dessa feita foi Carmen de Bizet. Bela ópera, belas melodias, como bela é a vida com seus diversos e misteriosos desígnios. As crianças assistiram pesarosos e excitados o desfecho fatal da ópera. Eu me desloquei do enlevo dado pela beleza que a obra inspira, até à beira do desconforto e da tristeza, aquele negro precipício que às vezes se enxerga quando se debruça na própria alma, ou na arte, ou na beleza superlativa.

Carmen e José morrem a todo instante nesse vasto mundo. Carmen foi a mesma Maria, que um dia Bil matou, por puro ciúme e despeito, sob o sol de meio dia no sítio Inharé, na cidade de Várzea-Alegre, quando ela grávida do terceiro filho, levava comida para o pai na roça. José foi o mesmo que de incontrolável e excessivo amor, ou sentimento de posse, ou não sei que ferida d´alma, matou sua esposa num domingo fatídico, em Marília, e depois se matou ...eu os pude ver no pronto socorro, jogados em macas diferentes, mas por acaso virados um para o outro, e como que mirando-se, no vazio de seus olhos e da existência perdida. Impressionantes os meandros da vida, inescrutáveis seus precipícios, a morte sombreando escandalosamente cada manisfestação vital.

Maria se tornou uma lenda e virou santa para as pessoas da região. De longe se pode ver sua capelinha branca encrustada na serra.

- Carmen um dia existiu, pai? – André me pergunta com uma entonação triste.

Carmen, José, o amor, a vida, a paixão desenfreada, o ciúme, o egoísmo, a fatalidade, a loucura, o instinto homicida...

- Sim, André, um dia Carmen existiu, viveu em Sevilha, na Espanha – Eu lhe respondo com convicção, sabendo que vida e arte são ao final um só corpo, mistura de ficção e realidade. Carmens e Josés vivem e morrem a cada instante dentro de cada um de nós.

Dr. Jose Bitu Moreno.

6 comentários:

  1. Nenhum outro fato marcou Varzea-Alegre pela crueldade, pela tristeza quanto a morte de Maria. É nosso dever a obrigação escrever, comentar, publicar a historia de Maria para que jamais aconteça em nossa terra coisa semelhante. Maria, a martir, vitima do ciume e do egoismo. Jose Alves de Oliveira marcou esta triste historia com a construção desta capela e nós marcamos escrevendo para o conhecimento da posteridade. Parabens Dr. Bitu.

    ResponderExcluir
  2. Maria, vítima de uma crueldade que marcou um evo na história do povo Varzealegrese. Assim como Licosa que morreu perdida na mata de fome e sede. São tristes fatos ocorridos e que ficaram na memória e que jamais vão ser esquecidos pelo nosso povo. Hoje, tanto Maria como Licosa já não se encontram no nosso meio, mas somos conscientes que apenas os seus corpos permanecem na sepultura, os seus gestos de bondade e de espiritualidade vão perdurar por toda vida no coração de todos os Varzealegreses.

    ResponderExcluir
  3. uma coincidência quando vi essa postagem é que amanhã eu tava pensando em colocar o cordel de expedito pinheiro no blog que fala disso e peço a morais a autorização da foto pra por lá no blog abraços realmente foi uma história que chocou a cidade nos anos trinta e pra muitos maria é santa

    ResponderExcluir
  4. A SECRETARIA DE CULTURA TODOS OS ANOS FAZ A ROMARIA ATÉ A CAPELA. DIVULGANDO FAZENDO CONVITES E DISPONIBILIZANDO TRANSPORTE E LANCHE PARA OS PRESENTE. E A MIS (MOCIDADE INDEPENDENTE DO SANHAROL. NESSE CARNAVAL 2010 FEZ JUSTA HOMENAGEM A NOSSA MÁRTIR MARIA. E POR COINCIDENCAI A MINHA NAMORADA, FOI QUEM ENCARNOU O PAPEL.

    ResponderExcluir
  5. só falta ser morta pelo marido (namorado) kkkk

    ResponderExcluir
  6. Eu tive a oportunidade de fazer aquela romaria este ano, naquela ocasião cresceu o meu curricilum cultural.
    Se eu tivesse a capacidade do Dr. José Bitu Moreno, já tinha feito um trabalho sobre aquele fato.
    Como eu não tenho, vou me contentar
    apenas em conhecer a história.
    Abraço para o os parentes do Inharé.
    Mundim do vale,

    ResponderExcluir