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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

MEU TIO ALMIR - Uma vez Flamengo - Por Xico Bizerra.

Seu Almir era um homem bom, só fazia o bem e nunca acreditou em Deus. Fazia uma exigência, metódico que era: quando morresse, que seu cortejo fúnebre desviasse pela rua de trás, evitando passar em frente à Igreja de Nossa Senhora da Penha. Fez até um mapa detalhando o roteiro a ser cumprido.
Estava tudo preparado para esse dia, por ele mesmo, desde a bandeira do Flamengo a ser colocada sobre o caixão até o discurso de despedida, por ele próprio redigido e que seria lido por Altamiro, seu amigo, aposentado do BB e flamenguista como ele.
Proibido estava que se fizesse qualquer oração, sequer um Pai-Nosso. Altamiro foi-se antes, coração atropelado por um enfarte desgovernado e sem freios. Seu Almir morreu num domingo, na hora da missa das sete e seu sepultamento foi às quatro da tarde, quando se iniciava a novena em louvor à Virgem Maria.
A rua estava lotada de fiéis e seus amigos o acompanharam da Pedro II até o cemitério pela rua que fica por trás da Igreja. Se houve reza, foi baixinho e ninguém ouviu. Mais tarde, o Flamengo ganhou do Vasco por 1x0. Da arquibancada do céu ouviu-se um grito de gol embrulhado num manto rubro-negro.
Xico Bizerra

6 comentários:

  1. Seu Almir Carvalho, amigo leal, sincero e bom. Deixou muita saudade. valeu Xico Bizerra.

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  2. daí porque o grito que se ouviu do céu saiu da boca dele, embora ele não acreditasse no céu.

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  3. A JANELA DA CASA DA FRENTE – do outro lado da rua
    Por XICO BIZERRA

    Estava tão perto, bastava atravessar a rua, no caso, a Avenida Teodorico Teles, onde morava Padim Zuza, meu avô. Do outro lado, ela e seu sorriso, à mesma distância, claro. A vontade de ir até àquela janela do outro lado só era menor que a timidez que impedia seu atravessar. Coisa de adolescente. Sempre, à mesma hora, o ritual repetido: debruçar-se à janela, aprumar a vista para a janela da casa de frente, sonhar. Sabia que ela tinha o mesmo desejo e a mesma timidez, por isso, o mesmo ritual. Era a melhor parte das férias. Numa tarde de um junho quase julho passaram pela rua que os separava quase 30 fuscas, duas freiras e uma carroça carregando móveis usados, puxada por um cavalo castanho. Seu irmão menor viu e contou. Ele mesmo nada percebera além do debruçamento da menina à sua frente. Apenas praquela janela tinha olhos. Nas férias seguintes, a casa da janela enfeitada foi alugada a outra família. Foi a pior parte das férias. Numa tarde, ele contou 41 fuscas passando pela rua, a maioria deles branco. Duas freiras voltaram a passar. À tardinha, bem lentamente, passou uma carroça de saudades puxada por um cavalo azul.

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  4. morais,
    infelizmente meu 'analfabetismo tecmnológico' só me permite enviar escritos através de comentários em posts anteriores. Que fazer?

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  5. Farei Xico. E estarei enviando o convite para postagem direta no Blog. Será um grande prazer contar com voce. Voce sabe que é um do Sanharol? Dos bons. Mesmo da gema! Via Vicente Alves Bezerra, Zuza Bizerra ETC.
    Abraços.

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  6. Xico, estou aguardando resposta de um e-mail que enviei para Dulce. Empresta teu PC para ela me responder (risos). Enviei agorinha um recado para ela via orkut.

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