A usina de açúcar Manoel Costa Filho logo após sua instalação, em Barbalha-CE, nos anos 70, enfrentou dificuldade com a oferta de cana de açúcar. Os plantadores resistiam entregar sua colheita por várias razões: desconfiança com o novo empreendimento, receio de romper vínculos de décadas com compradores de rapadura, ficar privado da moagem sobre a qual tinha o comando e até mesmo a dependência com um único comprador da sua produção.
No esforço de mudar a mentalidade dos agricultores caririenses, os proprietários da usina contrataram agência de propaganda para campanha de marketing visando convencer os potenciais fornecedores de cana-de-açúcar.
A contratada realizou uma pesquisa para identificar personalidades da região que gozavam de simpatia e credibilidade no público-alvo da campanha. Deu Patativa do Assaré.
O jornalista e radialista Antônio Vicelmo do Nascimento, grande amigo do poeta de Assaré, foi então acionado para contratá-lo. Como sabia que o sonho de consumo do ilustre assareense era adquirir uma casa no centro da sua cidade, uma vez que morava na zona rural, a 10 km do centro, partiu para Assaré convicto que a missão seria fácil.
Lá chegando, foi logo disparando o que considerava seu grande trunfo:
- Patativa, você ainda quer comprar uma casa na rua?
- Quero sim, estou ficando cansado, preciso de um pouso na cidade.
- Então receba logo meus parabéns. Pode escolher o imóvel. Vim lhe comunicar um jeito fácil para você ganhar o dinheiro e pagar sua casa. Basta você fazer umas poesias convencendo os canavieiros vender a cana para a usina Manoel Costa Filho.
“Faço não”. A imediata resposta, ríspida e sêca, surpreendeu Vicelmo. Meio atônito, tentou argumentar: Mas Patativa, eles vão pagar à vista, você pode comprar a casa que escolher.
Vicelmo, se aceitar a proposta estarei negando minha poesia “Ingem de ferro”, feita há mais de 40 anos.
INGÉM DE FERRO.
ResponderExcluirPatativa do Assaré
Ingém de ferro, você
Com seu amigo motô,
Sabe bem desenvorvê,
É munto trabaiadô.
Arguém já me disse até
E afirmô que você é
Progressista em alto grau;
Tem força e tem energia,
Mas não tem a poesia
Que tem um ingém de pau.
Do bom tempo que se foi
Faz mangofa, zomba, escarra.
Foi quem espursou os boi
Que puxava na manjarra.
Todo soberbo e sisudo,
Qué governá e mandá tudo,
É só quem qué sê ingém.
Você pode tê grandeza
E pode fazê riqueza,
Mas eu não lhe quero bem.
Mode esta suberba sua
Ninguém vê mais nas muage,
Nas bela noite de lua,
Aquela camaradage
De todos trabaiadô.
Um falando em seu amô
Outro dizendo uma rima,
Na mais doce brincadêra,
Deitado na bagacêra,
Tudo de papo pra cima.
Esse tempo que passô
Tão bom e tão divertido,
Foi você quem acabô,
Esguerado, esgalamido!
Come,come interessêro!
Lá dos confim do estrangêro,
Com seu baruio indecente,
Você vem todo prevesso,
Com históra de progresso,
Mode dá desgosto a gente!
Ingém de ferro, eu não quero
Abatê sua grandeza,
Mas eu não lhe considero
Como coisa de beleza,
Eu nunca lhe achei bonito,
Sempre lhe achei esquesito,
Orguioso e munto mau.
Até mesmo a rapadura
Não tem aquela doçura
Do tempo do ingém de pau.
Eu conheço bem a história da Usina Manuel Costa Filho. Fui gerente do Banco em que era feita a sua movimentação financeira.
ResponderExcluirConhecia a maioria dos fornecedores de cana para a mesma. Conheço a pressão que foi feita para acabar com os engenhos da região, inclusive usando fiscais do Ministerio do Trabalho em fiscalizações sistemáticas nos engenhos.
O único herdeiro da usina era um bailarinho que vivia na França e não estava nem aí com a mesma. Com a morte do pai a industria desandou. Não pagaram os impostos, a energia e o pior, os fornecedores que podiam ter fabricado rapaduras para o nosso sabor.
Lamentavelmente noticias disseminadas pela imprensa sustentam que o governo do estado pagou 35 milhões de reais pelo amontuado de ferros enferrujados, no momento em que não encontramos um só pé de cana na região.