Ruy Maranhão do Rego Barros, um medalhão da Escola de Medicina do Recife, educado ali, em Colégio de Padres Jesuítas, muito rigoroso, foi companheiro do poeta e hospede na mesma pensão familiar, em Salvador, ao lado de outros colegas, nos três primeiros anos do curso médico.
Transcorria o aniversário do Francisco Chaves Brasileiro, o mais velho da turma, que estava sendo homenageado pelos companheiros.
Era um almoço lauto e festivo. Quando os cérebros estavam impregnados pelo vinho, o Ruy, extemporaneamente, começou a dissertar sobre a cerimônia do solidéu, aquele barrete chato e roxo que o bispo usa sobre a tonsura. E dizia : O bispo ao levantar-se pela manhã, após persignar-se coloca o solidéu sobre a tonsura. Daí em diante, durante todo dia, ao sentar-se a mesa para as refeições e após servir-se delas, ao persignar-se novamente, ele tira o solidéu.
Mais de uma hora o Ruy falou minuciosamente sobre esse ritual do solidéu. Calou-se, Fez-se profundo silêncio. Ninguém deu uma palavra. O poeta, súbito, levanta-se, limpa a boca com um lenço, empertiga-se, como se fosse saudar o aniversariante, olha para todos, volta-se para o Ruy e lhe pergunta :
Ruy, você que está ao par
Dessas coisas lá do céu,
Quando o bispo vai cagar
Também tira o solidéu?
Foi uma polvorosa. O Ruy danou-se, foi esse o último encontro da turma.
Dr. Mozart Cardoso de Alencar, medico, politico, escritor, homem de cultura impar.
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