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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 24 de novembro de 2023

A TRISTE PROCISSÃO DO BEATO SEM BÊNÇÃO - Postagem do Pedrinho Sanharol.


Era o ano de 1946. Nuvens pesadas pairavam entre o Ceará e Pernambuco. A Segunda Guerra Mundial tinha chegado ao fim e o incidente do bombardeio ocorrido no interior havia sido escondido pelo governo. 

José Lourenço não morreu no bombardeio. Depois do fim do Caldeirão, foi se refugiar na cidade de Exu, no Pernambuco.

Após sua morte, por peste bubônica, em Exu, para manter a história viva, seus seguidores e fiéis decidiram levar seu corpo para Juazeiro do Norte, para que fosse abençoado pelo Monsenhor Joviniano Barreto e sepultado no cemitério do Socorro.

Algumas pessoas alertaram sobre o temporal que se formava no horizonte. Embora o Nordeste sofra com a seca, em certas épocas as chuvas são abundantes; ocorrem deslizamentos e cheias. Mas nenhum dos fiéis deixaria tais circunstâncias impedirem a longa e última caminhada.

Na comunidade liderada pelo beato aconteciam celebrações, religiosas, tais como novenas, renovações e outras liturgias que podem ser realizadas em casa. Seus perseguidores, no entanto, usaram de tais práticas para perseguir o beato e seus seguidores. Na foto acima, o beato segura uma cruz usada nas preces diversas.

Saídos de Exu, muito tempo havia se passado. O peso do caixão estava insuportável. Os carregadores alternavam-se incontáveis vezes. Na caatinga, uma árvore que ofereça sombra é algo raro e a procissão não tinha muitos lugares para descansar. 

As pernas de alguns já não aguentavam o esforço. Estavam dormentes. As panturrilhas se contraíam, denunciando o esforço além do suportado. Houve uma imensa alegria quando alguém anunciou que já via ao longe a cidade do Crato. Todos estava com muita sede. Pediram água aos moradores, mas muitos fechavam a porta, com medo de contrair a peste que matara o beato. 

É que alguns da procissão traziam feridas escarlates pela pele, pelo rosto e pelos braços. Além disso, havia a má fama do beato. 

Finalmente chegaram a onde desejavam. Mas não puderam velar o corpo dentro da igreja. O monsenhor recusou-se a receber o corpo e abençoá-lo.

Todos foram expulsos da igreja. Lá fora, a chuva caía forte. Caixão aberto, debaixo de muita água, os seguidores do beato o velavam, tristes.

Depois o levaram para a casa de um de seus muitos afilhados. De lá, ao Cemitério do Socorro, onde foi enterrado.

Tristes fatos.

Pablo Levi Ferreira dos Santos.

5 comentários:

  1. A mesma igreja que retirou o corpo do beato José Lourenço do templo e expulsou os seguidores, que deixou o caixão aberto debaixo da chuva é a que hoje promove as romarias ao Caldeirão do Beato com um padre a frente mentindo, sem falar a verdade sobre as causas e consequências do desastre do Caldeirão.

    Igreja que chega sempre atrasada, cem anos para pedir perdão pelos judeus, cem anos para pedir perdão pela escravidão, nesse caso 80 anos depois, fazendo sempre o povo de otário.

    Uma igreja adaptada as conveniências e interesses de cada tempo.


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    1. Não discordo de .nenhuma palavra aqui descrita. A igreja é feita de homens. A maioria imperfeitos e bandidos, que a usam como escudo, para esconder seus crimes.

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    2. Tenho visto barbaridades. Mas até a população aceita porque é feita em nome de Deus.

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  2. A verdade anda igual a preguiça, bem devagar. Mas um dia chega. A igreja católica vive de ameaças. Criou as figuras do céu, purgatório e inferno para ameaçar os abestados e levar vantagens. Eu estou fora. Quem garante que existem esses departamentos.

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  3. Acredito num ser supremo.

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