Fomos programados para sentir prazer quando alguém repete nossas crenças. Num mundo dividido em bolhas, esse é um belo atalho para o obscurantismo.
As pesquisas de rejeição deixam claro: Jair Bolsonaro e Lula são odiados. Quem vota em um rejeita total e absolutamente o outro. Para entender exatamente por que isso acontece, não tem outro jeito. Precisamos esquecer por alguns instantes os valores e planos de governo de cada um e focar num objeto inquestionavelmente mais complexo: nosso cérebro. E ele traz à tona uma resposta incômoda, a de que somos mais intolerantes do que admitimos.
É o que aponta o neurocientista americano Joshua Greene, de Harvard, em seu livro Tribos Morais – A Tragédia da Moralidade do Senso Comum. Greene defende um pilar da psicologia evolutiva: o de que nosso cérebro não foi projetado para encarar a tarefa de viver em grupos complexos. Nossos instintos não toleram a ideia de conviver com quem pensa de forma distinta – muito menos oposta.
A evolução nos conduziu para a vida tribal. Entenda “tribal” não como algo primitivo, mas como uma família estendida. Fomos programados para conviver em grupos pequenos, com indivíduos que encaram a vida de uma forma parecida com a nossa – que comungam das mesmas crenças, hábitos e valores. Quem não comungasse era um inimigo, um predador humano, alguém pronto para roubar sua comida e matar você ao longo do processo.
Foi dessa forma que organizamos nossa vida coletiva por centenas de milhares de anos. O cérebro criou mecanismos para proteger os laços tribais. Um deles é o “viés de confirmação”. Somos recompensados com pequenas doses de dopamina, o neurotransmissor do prazer, cada vez que ouvimos alguém repetir crenças e valores iguais aos nossos. Isso indica que o sujeito é um membro em potencial da sua família estendida. Alguém que irá lhe proteger.
Foi uns votando por paixão e outros por raiva que chegamos ao ponto final : Dos candidatos que disputaram a eleição no primeiro e segundo turnos nenhum deles era digno de ser presidente.
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