A conversão de Romero Jucá em presidente do PMDB é uma tentativa de Michel Temer e seu grupo de colocar ordem no palco. Desde que rompeu com o governo, o PMDB parece uma peça mal escrita, sem diretor, com atores fora dos seus papeis e ensaiados às pressas para substituir o espetáculo anterior, que será retirado de cartaz por não estar agradando ao público.
Licenciando-se da presidência do partido, Temer entregou a direção geral a Jucá para que ele faça o que um vice-presidente da República está institucionalmente impedido de fazer: comprar brigas e costurar alianças. O novo roteiro foi acertado em jantar realizado na noite de segunda-feira. Além de Temer e Jucá, estavam presentes, entre outros, os ex-ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco e Geddel Vieira Lima.
Jucá estreou na nova função com um discurso no Senado. Seu desempenho foi celebrado no gabinete da vice-presidência da República. Ele cumpriu à risca o combinado: defendeu Temer, deu um chega-prá-lá em Renan Calheiros, desqualificou a proposta de eleições gerais do correligionário Valdir Raupp, defendeu o impeachment, atacou o PT e tentou desvincular o PMDB da ruína econômica da administração Dilma.
“Não venham cobrar do PMDB a crise econômica, porque o Michel não era copiloto, estava fora da cabine”, disse Jucá. “Era comissário de bordo. Segurava as pessoas e dava um saquinho para vomitar. Não tivemos a condução política e nem econômica. … Vamos enfrentar debate de cabeça erguida.”
Jucá será, por assim dizer, o escudo de Temer: “Disse ao presidente Michel, como outros companheiros disseram: ‘Presidente Michel, você não pode ser instado, provocado a descer à planície e entrar em brigas de rua’. Esse era o objetivo: espicaçá-lo, provocá-lo, para gerar desgaste em alguém que pode ser, dependendo do desejo majoritário do Congresso, uma esperança de construção de uma outra conjuntura política para o país.”
Tratou a ideia de Raupp de convocar eleições gerais como quem empurra um detrito para o canto da sala com o bico do sapato: “A saída está na regra, está na Constituição. Qualquer outra saída mirabolante, desculpem-me, aí sim é golpe, aí sim é golpe! Eleições gerais para todo mundo está na Constituição? Não. Todo mundo renunciar está na Constituição? Não.” Renan, que apoiara a tese de Raupp, assistia a tudo em silêncio, desde a poltrona de presidente da sessão.
Renan havia tachado o desembarque do PMDB de “precipitado” e “pouco inteligente”. Teve de ouvir em silêncio: “Alguns disseram que a decisão [do PMDB] seria precipitada ou até pouco inteligente. Não acho que a posição foi precipitada. Aliás, minha posição foi antecipada em 2014 [Jucá apoiou Aécio Neves]. Acho que a posição veio na hora certa. Não é precipitado tomar uma decisão a favor do povo. Ao contrário, é uma posição acertada, consentânea com a realidade e com o momento de falta de representatividade em que vivem os partidos e os políticos, hoje”
Jucá acrescentou: “A posição foi pouco inteligente? Pouco inteligente para quem? É inteligente cuidarmos da nossa vida e deixarmos o povo ao léu? Talvez seja a hora de ser pouco inteligente em algumas questões e de ser defensor do bem comum, de deixar o interesse pessoal e de cuidar do interesse coletivo de quem votou em todos nós.”
Recordou que os que agora chamam Temer de golpista o enalteciam: “Em 2014, não houve nenhuma voz contra a seriedade, o espírito público do Michel Temer. O castelo cartas ruiu, e o quadro se desnudou. O governo perdeu os três pilares para ter um mínimo de condições de funcionamento: credibilidade, segurança jurídica e condições de dar previsibilidade à economia.”
Ficou entendido que o PMDB, agora um ex-sócio-majoritário do petismo, não apanhará mais calado: “Não tenho medo de briga”, disse Jucá.
"Não tenho medo de briga".
ResponderExcluirIsso é verdade.