Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 6 de abril de 2016

Sem trama e sem final – por Mônica De Bolle (*)

Para salvar Dilma do impeachment, vale tudo; vale até quebrar o Brasil
O Brasil está quebrado. Para resolver os problemas que impedem a retomada do crescimento e do emprego será necessário enorme empenho em reestruturar o orçamento público, adotando medidas indigestas que muita indignação hão de gerar. Benefícios, programas sociais, regras de salário mínimo, benesses do BNDES, tudo isso terá de ser repensado e reformulado. Antes, tudo isso terá de ser explicado à sociedade. Para que se chegue ao consenso do que é necessário, será preciso explicar para a população brasileira porque as melhorias de vida que pensara ter alcançado eram apenas fruto de uma falácia, de um grande embuste. Embuste travestido de “preocupação com o povo, atenção aos pobres”.
O Brasil está quebrado. Isso significa que a volta à realidade será dura, lenta, prolongada. Poderá se estender por muitos anos, a depender dos descalabros adicionais aos quais o governo estrebuchante nos submeterá. É essa a coisa da vida, de todos os dias, a economia. Sem trama e sem final.
Para salvar Dilma do impeachment, é preciso abrir espaço para mais gastos, mais repasses para os Estados brasileiros, muitos quebrados. Para salvar Dilma do impeachment, é preciso jogar debaixo do trem as reformas da Previdência e das leis trabalhistas, ambas urgentes para a retomada sustentável do crescimento econômico e do emprego. Para salvar Dilma do impeachment, vale tudo. Vale até quebrar o Brasil, quebrá-lo mais de uma vez. Afinal, arrebentado o País já está. Arrebentado de forma vil, léguas da excelência.
Repito palavras que escrevi em 10 de outubro de 2014 na Folha de S. Paulo em artigo intitulado “Mentira tem perna curta”. “Há quem ache que mentira repetida à exaustão torna-se verdade absoluta. Há quem subestime a capacidade de reflexão das pessoas repetindo refrões mentirosos como “o Brasil quebrou três vezes durante a época em que o PSDB esteve no poder”, nos anos 1990. Prefiro outro dito popular, o que diz que mentira em cima de mentira corre, corre, mas não chega a lugar algum com suas pernas desavantajadas. Igual ao Brasil de Dilma Rousseff.
(*) Monica De Bolle, Economista e pesquisadora do Peterson Institute for Internacional Economics.

Um comentário:

  1. Prezado Armando - Infelizmente, desde muito tempos que os nossos escritos faziam previsões nesse sentido. O Brasil já está quebrado, não pode ficar pior, a dificuldade agora é ter quem o emende.

    ResponderExcluir