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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 3 de novembro de 2016

15 de Novembro: feriado da Proclamação da República: comemorar o quê? -- por Patrick Beserra (*)

Uma República caótica e prenhe de crises

Abaixo o discurso de encerramento -- proferido pelo advogado Dr. Patrick Bezerra -- do 1º Encontro Monárquico Conservador do Norte-Nordeste, organizado pelo Círculo Monárquico de Fortaleza e pela Associação Cultural São Tomás Morus.


Sua Alteza Imperial e Real, Dom Bertrand de Orleans e Bragança,
Sua Alteza Real, Dom Gabriel de Orleans e Bragança,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

    A nação, convulsa, assistiu, há poucos meses, o paroxismo de uma das mais graves crises de sua história.  Os fatos mais recentes da política nacional juntam-se para dar prova do que parece ser a vocação inescapável da República no Brasil. De crise em crise, de golpe em golpe, o governo republicano se perpetua, roubando da pátria o destino glorioso que a Providência lhe parecia reservar. Outrora, o Ilustre Marquês de Santa Cruz e Arcebispo primaz do Brasil, Dom Romualdo Antônio de Seixas, pôde dizer, em presença de Sua Majestade, o Imperador Dom Pedro II, que nenhum povo poderia gloriar-se, como o brasileiro, de proteção mais singular e de mais copiosas bênçãos do céu, no heróico empenho de conquistar seus legítimos foros e independência. Hoje, o governo da nação nada pode inspirar de auspicioso ou benfazejo. Nós, os brasileiros, já não podemos esperar que os interesses de Estado coincidam com os interesses permanentes da Nação. Tudo leva ao esmorecimento, ao desalento, ao derrotismo. Mas enganam-se aqueles que pensam que o Brasil já não conta com os favores da Divina providência, ou que o Supremo Legislador e Árbitro dos Impérios desviou de nós seu olhar, entregando-nos à própria sorte.

    Por toda parte, de norte a sul do país, multiplicam-se as iniciativas de brasileiros patriotas e honrados, ávidos por resgatar os princípios que orientam qualquer ordem política estável e duradoura, e, cada vez mais, conscientes de que o bem estar da nação depende do resgate da cultura sobre a qual foi edificada a civilização ocidental, que é, antes de tudo, uma civilização cristã. O Encontro Monárquico Conservador do Norte e Nordeste, organizado pela Associação Cultural São Tomás Morus e pelo Círculo Monárquico de Fortaleza, junta-se a essas iniciativas com o mérito de ser o primeiro evento de seu tipo. Sua singularidade constata-se não apenas por reunir pela primeira vez o Norte e o Nordeste – que são os próprios berços da nação brasileira – ou por realizar-se em uma capital Nordestina – esta Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção – mas também por caracterizar-se, a um só tempo, como Monárquico e Conservador.

    No cerne desta denominação está uma convicção profunda: não há autêntico conservador que não reconheça os valores da Monarquia; não há regime autenticamente monárquico que não se funde sobre a conservação de uma ordem moral. Mas, ainda que não tragam em si uma implicação direta e manifesta, Monarquia e conservadorismo unem-se por um aspecto comum: aquilo que é o fio da continuidade histórica, o laço que une as gerações, e que chamamos Tradição.

    Vê-se, em nosso tempo, certo espírito narcisista e mesquinho que põe, na língua dos tolos, expressões como: “nunca antes”, ou “isto nunca se viu”. É o espírito dos homens sem passado e das nações sem história. É o traço distintivo de uma civilização que se ressente de seus feitos e que se envergonha de suas glórias, deixando para trás tudo aquilo que lhe dá forma e identidade. Mas esta geração, que busca trancafiar o passado e esquecê-lo, inebriada pelos encantos de um progressismo estéril, sempre haverá de ouvir os ecos das palavras do escritor sacro: “nihil novi sub sole”, nada há de novo sob o sol. Somente a perenidade da natureza humana, comum aos homens de todos os séculos, é capaz de garantir a força da tradição. Somente a perenidade da ordem moral, impressa nos corações dos homens, como atesta a apóstolo São Paulo, pode fiar a conservação da ordem social.

                    “Maldito seja aquele que começa por si mesmo! – dizia o escritor alemão Achim von Arnin – Somente a infâmia começa por si mesma um novo mundo. O que é bom, o foi eternamente”. A defesa da tradição, comum ao ideal conservador e à causa monárquica, é, sobretudo, uma defesa do bem e da justiça, aspirações dos homens de todos os tempos. Não pode ter, portanto, nada de anacrônico. Do mesmo modo, não pode sucumbir aos preconceitos de época alguma, especialmente, aqueles que foram gerados no ventre do cavalo de pau revolucionário. Em sua melhor fase, o grande crítico literário Otto Maria Carpeaux ressaltava que o principal inimigo da tradição é a anarquia espiritual, que esmaga todas as continuidades. Ela, a anarquia espiritual, cega os homens às experiências de todos os tempos, não lhes permite enxergar a luz de sua própria razão, torna-os imunes ao bom senso. O resgate da cultura brasileira começará, portanto, com o abrir de olhos de gerações inteiras deseducadas com os valores deformados das revoluções.

                 Este não é o trabalho de uma única vida. Este não tem sido o trabalho de uma única geração. Olhai a vossa volta, minhas senhoras e meus senhores, e compreendereis da forma mais concreta o que é tradição. Nos rostos de uns, vereis as marcas de uma longa vida dedicada à reconstrução da pátria; nos rostos de outros, enxergareis o vigor da juventude e a disposição para levar adiante a flâmula sagrada que receberam. Não creio que algum dia teremos certeza se somos dignos de tarefa tão insigne, mas contaremos incessantemente com os favores da providência, que concorre sempre para a vitória dos bons.

                Ainda ontem, tive a honra de lembrar a Sua Alteza Imperial e Real do particular empenho que o povo cearense demonstrou, no passado, em favor da causa abolicionista. O pioneirismo do Ceará na abolição da escravatura, no Brasil, gravou na história um marco da fidelidade dos cearenses à nobre causa levada a termo pela Princesa Isabel, a Redentora. O que era verdade naquela época é também verdade hoje. Sempre haverá cearenses dispostos a apoiar as nobres causas da família imperial. E quanto mais nobres forem as causas, mais convicto será o apoio. Ontem, Alteza, exprimi-vos a minha convicção pessoal de que os valores de Vossa Augusta família sempre ecoarão nos corações dos cearenses. Hoje, asseguro-vos a disposição inabalável de seguirmos adiante, sempre adiante, sem desfalecer. Não apenas os cearenses, mas todos os nortistas e nordestinos, que permanecemos fiéis nos mais decisivos momentos da vida nacional.

Não capitularemos.
Não trairemos nosso dever histórico.
Permaneceremos fiéis até o fim.

Viva a Casa Imperial Brasileira!
Viva o Brasil!

Fortaleza, 15 de outubro de 2016.
(*) Patrick Beserra é advogado


5 comentários:

  1. Não há mesmo o que comemorar na republica. "No Brasil, mais de cinco pessoas foram estupradas por hora e um veículo foi roubado a cada minuto em 2015. Os dados fazem parte do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e divulgados nesta quinta-feira (3).

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  2. –– 1 ––
    Não há dúvidas de que o regime republicano foi – e continua sendo – um verdadeiro fracasso no Brasil. Vejamos apenas um aspecto: os golpes de Estado que aqui ocorreram. Se um golpe de Estado é definido como subversão da ordem institucional, então, podemos registrar 06 golpes que rasgaram a Constituição no Brasil. Aliás, o Brasil bate o recorde com 7 Constituições na sua história. A atual, a de 1988, só tem 28 anos...
    1 – O que comumente conhecemos por "Proclamação da República", ocorrida no dia 15 de novembro de 1889, foi, na verdade, um golpe militar que pôs fim ao regime monárquico no Brasil..
    2 – Golpe de 3 de novembro de 1891– Dado o golpe de 15 de novembro, Deodoro, o monarquista que derrubou a monarquia, acabou sendo o chefe interino da república até que esta tivesse uma Constituição. O texto constitucional republicano foi aprovado em 14 de fevereiro de 1891. Deodoro da Fonseca foi eleito indiretamente o presidente da República. Em segundo lugar, ficou outro marechal, Floriano Peixoto, como vice. Em seu primeiro ano como presidente eleito, Deodoro da Fonseca, para resolver o problema da pressão que os oposicionistas exerciam sobre o seu governo, dissolveu, via decreto, o Congresso Nacional em 3 de novembro de 1891.
    (continua)

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  3. –– 2 ––
    3 – Golpe de Estado dado por Floriano: Vinte dias após o golpe de 3 de novembro, Deodoro da Fonseca renunciou ao cargo de presidente, diante da reação da marinha brasileira, que ameaçou bombardear a cidade do Rio de Janeiro caso o presidente continuasse no cargo. Essa reação da marinha ficou conhecida como Primeira Revolta da Armada.
    No lugar de Deodoro, assumiu o vice, Floriano Peixoto. Como não havia um ano ainda de mandato de Deodoro, o que a Constituição previa era a convocação de novas eleições presidenciais. No entanto, o marechal Floriano não convocou as novas eleições com a justificativa de que a Constituição de 1891 tinha dispositivos que determinavam a convocação de novas eleições só se o presidente tivesse sido eleito diretamente pelo povo, o que não ocorreu no caso de Deodoro da Fonseca.
    (continua)

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  4. –– 3 ––
    4 – O golpe de 1930. A Revolução de 1930 foi um golpe de caráter civil-militar encabeçado por lideranças dos estados da Paraíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que juntas lutaram contra todo o restante do país. Em 10 de novembro, por meio de um pronunciamento público, Vargas decretou o fechamento do Congresso Nacional e cancelou as eleições presidenciais que seriam realizadas em janeiro de 1938. Por meio desse golpe, a ditadura varguista durou até 1945.
    (continua)

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  5. –– 4 ––
    5 – Golpe da deposição de Getúlio Vargas em 1945. Praticamente os mesmos militares que apoiaram o golpe de 1937 tiraram Vargas do cargo de chefe de Estado em 1945. O contexto do golpe que depôs Vargas do cargo de presidente em 29 de outubro de 1945 era o do fim da Segunda Guerra Mundial. Como é sabido, Vargas foi de 1937 a 1945 um ditador aos moldes do fascismo europeu, tendo inclusive se aproximado da Alemanha nazista no início do Estado Novo.
    6 – Golpe militar de 31 de março de 1964. Os militares ficaram no poder por 20 anos, com 5 generais sendo eleitos indiretamente pelo Congresso Nacional.
    Agora se fossemos registrar os “Estados de Sítios”, fechamento do Congresso, presidentes que renunciaram, sofreram impeachment, foram afastados, etc. a lista seria longa...Ah republicazinha desmoralizada...

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