A terceira imperatriz do Brasil: Dona Teresa Cristina
Certa vez, encontrava-se a Imperatriz Dona Teresa Cristina em uma das salas do Paço Imperial, com as janelas abertas voltadas para a rua lateral, enquanto o Imperador Dom Pedro II, na sala ao lado, atendia a um compromisso oficial.
De repente, a Imperatriz ouviu a voz de dois jovens discutindo a altos brados, no mais puro dialeto napolitano, exatamente na ruela vizinha ao Paço; os jovens acusavam-se mutuamente de se encontrarem em situação de extrema miséria, passando as piores necessidades, sem conhecer pessoa alguma naquela terra estranha.
Sua Majestade, nascida Princesa do Reino das Duas Sicílias, animou-se ao ouvir alguém falar seu idioma natal e foi até a janela, de onde divisou os dois jovens que, meio recostados na parede fronteira, gesticulavam, emitindo sonoros palavrões em tom elevadíssimo.
A Imperatriz não se importou com a grosseria do vocabulário dos jovens, animada como ficou ao ouvir seu idioma natal, coisa, por sinal, raríssima no Brasil daquela época. Ansiosa, correu à sala ao lado, onde se encontrava o Imperador, e pediu ao marido que mandasse buscar os rapazes, pois queria saber sua história e ajudá-los no que fosse possível.
O Imperador mandou o Ajudante de Ordens ir buscá-los, e a Imperatriz voltou à sala anterior, postando-se à janela, ansiosa para ver o resultado.
Quando os napolitanos viram aquele oficial todo galardoado se dirigindo na direção deles, levantaram-se, preparando-se para correr. Então, a Imperatriz disse-lhes, da janela, em dialeto napolitano: “Nú v’appaurate, nu v’appaurate!”, isto é, “Não se amedrontem, não se amedrontem!”.
Aí foi que os rapazes se apavoraram, e um disse ao outro: “Quillo capiche taliano! Nui ammo ditte male parole, mó vene o centarni a ni pilhá carcicati...”, que significa “A moça entende italiano e nós dissemos muitos palavrões, e agora mandou a polícia para nos prender...”.
É possível imaginar o tremendo susto pelo qual passaram aqueles pobres rapazes, mesmo sem saber que aquela “moça” era a Imperatriz. Mas tudo foi compensando quando tiveram a grande honra de se verem postos à frente de Sua Majestade em pessoa, tendo o susto pouco durado diante daquele sorridente ar maternal da Imperatriz napolitana, que os hospedou durante certo tempo, enquanto eles aprendiam o português e se acostumavam com os hábitos do Brasil.
Na verdade, tratava-se de dois irmãos, de dezoito e vinte anos, Domenico e Cesare Farini, que, sem perspectivas de trabalho na Itália, visando um futuro mais promissor, haviam fugido de casa em busca de aventuras, embarcando, como clandestinos, no primeiro navio pronto para zarpar do porto, sem ao menos se preocuparam com o destino da embarcação. E acabaram vindo dar com os costados no Rio de Janeiro. Sorte deles...
Por aquela época, foi determinada uma padronização monetária no Brasil, sendo os antigos e pesados patacões, ainda de origem colonial, substituídos por moedas de mesmo valor intrínseco, mas de menor peso, recebendo os dois napolitanos o encargo de efetuar essa troca, pelo interior do Império.
Dois anos depois, de volta ao Rio de Janeiro, a conselho da própria Imperatriz, os rapazes regressaram a Nápoles, onde foram estudar, aprendendo o ofício de ourives, de lá retornando, tempos depois, ao Rio de Janeiro, onde se estabeleceram com uma ourivesaria e joalheria na Rua dos Ourives (atual Rua Miguel Couto), ganhando fama e prestígio, a ponto de poderem ostentar, na tabuleta na porta de entrada da loja, o título de “Joalheiros da Casa Imperial”.
- Baseado em trecho do livro 'Sua Majestade Imperial D. Thereza Christina Maria de Bourbon e Bragança - "A Mães dos Brasileiros"', de autoria do Prof. Rogerio da Silva Tjäder.
Uma bela história. Tão nobre quanto a nobreza da imperatriz.
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