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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 22 de julho de 2020

O CAMINHO QUE JESUS MOSTROU - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

Principalmente depois da conquista do tricampeonato mundial, os profissionais da bola no Brasil passaram a exalar uma arrogância além do suportável.
Vá lá que o triunfo no México, em 1970, foi a celebração do futebol arte, com resultado que adicionou beleza a um movimento de jogo com elementos coletivos.
É preciso dizer que a seleção de Zagallo prestou uma enorme contribuição ao futebol em termos de verso, obliterando uma prosa europeia fincada na Copa do Mundo da Inglaterra com um tal de “futebol força”.
Ocorre, no entanto, que “o mundo gira e a Lusitana roda” e, com isso, advieram as mudanças inevitáveis.
Quem perdeu, recolheu os cacos e ficou estudando uma maneira de deter o futebol dos “dançarinos”, imaginando, à principio, que bastava correr o dobro para controlá-los.
Foram mais longe do que isso e, em pouco tempo, evoluíram na organização tática, preparação fisica e no aproveitamento da evolução da medicina esportiva.
Enquanto isso, a mistura da ignorância com vaidade (se dão muito bem) reforçou a frase da soberba: “Em se tratando de futebol, o Brasil não tem nada a aprender com ninguém”.
Em 1974, Mário Jorge Lobo Zagallo pagou caro, por emular com um pensamento tão pedante ao ser nocauteado por uma novidade que ele não conhecia – o carrossel holandês.
A qualidade do nosso futebol decaiu nos últimos tempos, a ponto de perdermos lugar na mesa de debate internacional sobre o assunto.
Eis que, de repente, um treinador português, Jorge Jesus, aqui aportou e fez ver ao brasileiro que era possível a um clube, o Flamengo, jogar explorando a nossa essência, cujo compromisso maior foi sempre de um futebol ofensivo.
Mas não de maneira aleatória. O movimento de jogo obedecido pelo rubro-negro nunca deixou de trazer a criação do passe pela defesa em marcação alta, pressão do campo contrário, apreço pela posse de bola e variações táticas intensas e bem ensaiadas.
O milagre de Jesus foi de fazer o futebol brasileiro despertar de um sono pesado, que o levou a pesadelos malucos, como o de rejeitar a bola, adotar bases táticas montadas pelo medo de jogar.
Foi isso, meus prezados.
E não foi pouco.

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